O papel da Medicina Geral e Familiar na sua saúde
A Medicina Geral e Familiar é a especialidade que se foca na pessoa como um todo, do nascimento à terceira idade. Carlos Martins e Luís Nogueira explicam tudo.
“Há uma característica que distingue a Medicina Geral e Familiar enquanto especialidade médica e que é única: é que é uma especialidade que lida com o ciclo vital completo”, começa por explicar Carlos Martins, especialista em Medicina Geral e Familiar. Esta área da medicina “é a porta de entrada nos cuidados de saúde”, acrescenta Luís Nogueira, também especialista em Medicina Geral e Familiar, e dedica-se à resolução qualquer situação de saúde.
Neste vídeo, os especialistas em Medicina Geral e Familiar Carlos Martins e Luís Nogueira explicam a importância desta especialidade médica na gestão da saúde dos pacientes ao longo da vida.
A medicina centrada na pessoa
Para Carlos Martins, um dos valores fundamentais da Medicina Geral e Familiar é “a prática da medicina centrada na pessoa como um todo”. Mais do que questões de saúde físicas, o médico de família gere “problemas que afetam a saúde da pessoa e que podem ser relacionais, familiares ou sociais, tendo-os sempre em consideração na avaliação que faz do indivíduo”.
Os cuidados de saúde primários, prestados pelo especialista em Medicina Geral e Familiar, estão presentes durante todo o ciclo de vida do paciente: infância, adolescência, vida adulta e terceira idade. E é o facto de o acompanhamento médico começar numa fase inicial da vida que faz com que se crie uma relação médico / paciente ainda mais próxima, salienta Carlos Martins.
Numa fase mais tardia da vida do paciente, o médico de Medicina Geral e Familiar “pode ter grande impacto no diagnóstico precoce de doenças graves potencialmente curáveis”, afirma Luís Nogueira, já que é este especialista que encaminha o paciente para os rastreios necessários em cada contexto, como, por exemplo, o do cancro da mama ou o do cancro do intestino.
Promover a saúde de toda a família
Além da saúde do indivíduo, a Medicina Geral e Familiar é também fundamental na promoção da saúde da família. Como afirma Carlos Martins, “a família, tal como o ser humano, tem um ciclo vital. E desde que é constituída enquanto núcleo familiar até à sua evolução natural, vai passando por diferentes fases”, como o nascimento de filhos, a sua saída de casa na idade adulta ou até a morte de um dos membros da família. “Nós sabemos que de cada vez que ocorre uma mudança é algo exigente do ponto de vista de adaptação para os membros daquela família. E aí o médico da família tem um papel importante: ajuda a antecipar e a preparar as pessoas e a família para as novas fases, a gerir sentimentos e emoções, a fomentar o diálogo na família e, por exemplo, a evitar ansiedades desnecessárias ou conflitos”, diz Carlos Martins.
Quando é que devemos ir ao médico de Medicina Geral e Familiar?
Como afirma Carlos Martins, “não existe uma resposta universal” a esta pergunta. Para o médico, é necessário ter sempre em conta as características e os fatores de risco do paciente, “que são muito individuais”, e é a partir daí que se decide “os exames e a vigilância a fazer”. Contudo, destaca ainda, “há períodos de maior vulnerabilidade na vida do ser humano e no ciclo vital, em que claramente é necessário uma maior vigilância, exames médicos, consultas e eventuais rastreios”. Esses períodos de vulnerabilidade são:
- A infância
- A gravidez
- A terceira idade
No caso da população idosa, explica Luís Nogueira, a regularidade da ida ao médico de família “depende das comorbilidades, dos problemas de saúde ativos e da rede de suporte familiar de cada um dos idosos”. Contudo, o especialista em Medicina Geral e Familiar recomenda “uma consulta presencial e depois mais uma ou duas consultas anuais, que podem ser uma teleconsulta, ou mesmo uma visita domiciliária”.
Para Luís Nogueira, a consulta ao domicílio é de grande importância, já que constitui “uma oportunidade para o profissional avaliar a envolvente do idoso, de forma a tentar prevenir situações que possam aumentar o risco de queda”, por exemplo.
A Medicina Geral e Familiar com foco nos pacientes mais velhos
Segundo Luís Nogueira, “cerca de um terço das consultas nos cuidados de saúde primários são de indivíduos com mais de 65 anos. Os idosos são os pacientes que consomem mais recursos de saúde, uma vez que correm maior risco de ter doenças concomitantes”. Assim, para o especialista, faz todo o sentido que haja, por parte dos médicos de família, uma preocupação especial no tratamento dos idosos, “já que estes tornam-se mais facilmente doentes polimedicados e, assim, estão em risco de envelhecer de uma forma não saudável”.
Para o médico, deve-se tentar, o máximo possível, promover um envelhecimento saudável: “A ideia é tentar manter uma independência funcional até uma altura tardia da vida. E dessa forma, o especialista em Medicina Geral e Familiar, com preocupação específica nesta problemática, pode ser uma ajuda muito importante para um indivíduo idoso”. Uma das formas de o fazer, de acordo com Luís Nogueira, é abordando junto do paciente fatores como a nutrição e o exercício físico, uma vez que “a adoção de estilos de vida saudáveis estão relacionados com uma maior esperança de vida”.
A Medicina Geral e Familiar e as outras especialidades
Explica Carlos Martins que uma das funções mais relevantes para o médico de Medicina Geral e Familiar é a de ser “coordenador de cuidados e cooperar nos cuidados que presta com outros profissionais de saúde”. E acrescenta Luís Nogueira que “a primeira opção do paciente, perante um problema de saúde, deve ser consultar o médico da família” que,
segundo Carlos Martins, “ajuda a pessoa a navegar o sistema de saúde” e funciona como “advogado” do paciente, evitando que este se exponha, por exemplo, a exames médicos desnecessários, que podem causar dano. O especialista em Medicina Geral e Familiar “é o principal referenciador para cuidados de saúde secundários, mais especializados”, diz Luís Nogueira, e “ajuda a coordenar os cuidados, a selecionar os exames médicos que realmente são necessários, a referenciar a pessoa para as especialidades médicas certas, além de comunicar com os colegas de outras especialidades para os alertar para certas especificidades do paciente”, acrescenta Carlos Martins.
“Não existem soluções universais em medicina e cada pessoa tem as suas características. E quando falamos de medicina centrada na pessoa é mesmo nesse sentido: é no sentido de uma personalização e da individualidade e das características particulares que cada pessoa tem e que necessita nos cuidados que prestamos quando estamos a gerir a sua saúde”, afirma Carlos Martins.