Parvovírus B19: que cuidados ter

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Gravidez
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O eritema infeccioso, provocado pelo parvovírus B19, é uma doença comum nas crianças, com sintomas ligeiros. Contudo, nas grávidas pode ser fatal para o bebé.

Entre os vários vírus que provocam doenças exantemáticas nas crianças, que causam erupções na pele, o parvovírus B19 é um dos mais comuns. Após o contágio, a infeção pode ser assintomática ou resultar em eritema infeccioso, normalmente com sintomas ligeiros. Esta doença também é conhecida como 5.ª doença, ou doença da bofetada, porque uma das manifestações é uma erupção cutânea vermelha em ambos os lados da face, semelhante a uma palmada.

 

O que é o parvovírus B19?

O B19 faz parte da família parvovírus e é um vírus comum em todo o mundo. É contagioso, afetando principalmente crianças em idade escolar, entre os 5 e os 7 anos, sendo comum a existência de surtos em escolas ou outros locais com a presença de crianças.

Presente na saliva e no muco nasal, o parvovírus B19 é transmitido por via aérea, através de gotículas, por contacto direto com outra pessoa infetada, ou por contacto com objetos e outras superfícies contaminadas, uma vez que o vírus consegue sobreviver algum tempo fora do seu ambiente. Também pode ser transmitido através de sangue contaminado ou da grávida para o feto pelo sangue, sendo potencialmente mais grave.

O vírus tem um período de incubação de três dias a duas semanas, a partir do qual o doente fica contagioso. Os sintomas só aparecem mais tarde, principalmente a erupção na cara. E sendo essa inflamação e vermelhidão provocada pela ação dos anticorpos sobre o vírus, isso significa que quando esse sintoma aparece o doente já não é contagioso para outros. Por outro lado, ter estado infetado garante depois imunidade ao vírus, incluindo nas grávidas, que são um grupo de elevado risco devido às complicações possíveis para o feto.

 

Sabia que...

O parvovírus B19 é totalmente diferente do parvovírus que atinge os cães, que é muitas vezes fatal para esses animais. Os humanos não são infetados pelo vírus canino, e o parvovírus B19 não afeta os cães.

 

Sintomas variam entre crianças e adultos

Em grande parte dos casos de infeção pelo parvovírus B19 não há quaisquer sintomas associados ou são ligeiros. A maioria dos adultos que tiveram contacto com este vírus não tem conhecimento disso. Por outro lado, apesar de ser transmitido principalmente por via aérea, não é comum o parvovírus B19 provocar sintomas relacionados com o sistema respiratório. Os sintomas também variam entre crianças e adultos.

 

Sintomas de parvovírus B19 em crianças:

  • Febre e mal-estar;
  • Erupção cutânea na face com vermelhidão;
  • Dores de cabeça;
  • Corrimento nasal.

 

As manchas vermelhas na cara, muitas vezes o primeiro sinal da infeção, evoluem nos dias seguintes para manchas rendilhadas - com uma zona central mais clara - nos braços, pernas e tronco, de cor rosada. No geral, a erupção cutânea provoca também comichão. Este sintoma vai sendo mais ou menos notado em função da exposição a calor e sol, bem como de stress, e desaparece normalmente ao fim de três semanas.

 

Sintomas de parvovírus B19 em adultos:

  • Dor nas articulações;
  • Erupção cutânea mais rendilhada, diferente das crianças;
  • Artrite;
  • Síndrome de luvas e meias, com eritema nas mãos e nos pés.

 

Os sintomas são menos comuns nos adultos, mais comuns nas mulheres, mas podem ser mais prolongados, incluindo dor nas articulações ou artrite, que em algumas situações se torna crónica.

 

Quais as complicações do parvovírus B19?

A infeção por parvovírus normalmente não tem consequências para a saúde além do eritema infeccioso, surgindo frequentemente sem dar sinais ou sintomas. A exceção são as pessoas com algumas doenças relacionadas com o sangue ou a imunidade - o parvovírus instala-se nas células responsáveis pela produção de eritrócitos, ou glóbulos vermelhos, podendo interferir com a sua produção, causando anemia.

Doentes com leucemia, portadores de HIV, recém-transplantados ou que tenham patologias do sangue como anemia falciforme ou talassemia são particularmente vulneráveis ao parvovírus B19, que pode causar uma anemia grave. Além destes casos específicos, o risco maior deste vírus reside nas mulheres grávidas que não tenham adquirido imunidade.

 

Parvovírus B19 na gravidez: quais as complicações?

Sendo transmissível pelo sangue, o parvovírus B19 pode ser transmitido ao feto através da mãe infetada. As consequências estão relacionadas com a anemia e o risco varia em função da idade gestacional - é mais grave nas primeiras 20 semanas -, podendo causar:

  • Aborto espontâneo: risco maior numa infeção até às 20 semanas de gravidez;
  • Hidrópsia fetal, acumulação de líquido: risco maior até às 12 semanas, mas ainda elevado até às 20 semanas;
  • Anemia fetal: pode surgir oito a 12 semanas após a infeção, necessitando de monitorização semanal ou quinzenal.

 

Apesar de ser um risco reduzido se for considerado o número de grávidas imunes e também aquelas cuja infeção não traz consequências para o bebé, trata-se de uma doença grave e difícil de identificar, uma vez que o período de contágio não apresenta sintomas na maioria dos casos. Em grávidas sem imunidade e com uma gestação inferior a 20 semanas, o risco de aborto é de 20 %.

 

Diagnóstico e tratamento do parvovírus B19

Uma vez que muitos infetados são assintomáticos e que os sintomas, quando existem, são habitualmente ligeiros, não são casos que necessitem de cuidados médicos. No entanto, o risco da infeção para as grávidas obriga a uma abordagem de todos os doentes sintomáticos, que permita reduzir o risco de contágio:

  • As grávidas devem ser informadas sobre a infeção e sobre como a evitar;
  • Durante a gravidez são feitos exames de deteção de anticorpos para o parvovírus B19;
  • Nas consultas de vigilância da gravidez deve ser questionada a possível exposição a infetados;
  • Quando há um diagnóstico de parvovírus B19 deve ser questionado se o doente teve contacto recente com grávidas;
  • Se houve contacto com uma grávida, esta deve ser referenciada para uma consulta de Medicina Geral e Familiar ou Obstetrícia.

 

Em caso de infeção, são feitos exames de sangue para identificar a presença de anticorpos e confirmar se já estavam presentes no organismo, havendo um contacto e imunidade anteriores, ou se a infeção é recente.

Quanto ao tratamento, sendo normalmente uma doença benigna que passa rapidamente, a medicação é dirigida a sintomas que possam estar a causar incómodo. Anti-inflamatórios ajudam em dores nas articulações, analgésicos aliviam dores de cabeça e febre, e anti-histamínicos reduzem os efeitos da comichão nas zonas com erupção cutânea.

Os doentes com o sistema imunológico comprometido, que aumentam o risco de complicações, podem vir a necessitar de imunoglobulina. As grávidas, em situações graves de anemia fetal, podem necessitar de tratamento hospitalar, incluindo transfusão de sangue intrauterina.

 

Como prevenir a infeção por parvovírus B19?

Não existe uma vacina para este vírus, devendo as pessoas, particularmente as grávidas e doentes imunodeprimidos, ser rigorosas nas medidas de prevenção. Esse cuidado ganha especial relevância quando há contacto regular com crianças em idade escolar, facilitadoras do contágio. Também os infetados devem tomar medidas para parar o ciclo de transmissão. Entre as ações de prevenção incluem-se:

  • Lavar frequentemente as mãos, especialmente após as refeições;
  • Evitar contacto com pessoas infetadas;
  • Não partilhar comida ou utensílios em caso de suspeita;
  • Cobrir a boca quando se tosse ou espirra;
  • Não reutilizar lenços de papel;
  • Evitar tocar nas mãos, nariz ou boca;
  • Ficar em casa durante a infeção.

 

A infeção por parvovírus B19 ou o eritema infeccioso que dela possa resultar são doenças benignas, que passam rapidamente sem grandes sintomas. No entanto, se notar continuidade dos sintomas ou se há risco de contágio, estiver grávida ou tiver uma doença que compromete o sistema imunológico, consulte o seu médico assistente. Os riscos são baixos e mais de metade das pessoas adultas já passaram pela doença e são imunes, no entanto, as complicações para os grupos de risco podem ser graves.

Fontes:

Centers for Disease Control and Prevention, julho de 2024
Cleveland Clinic, julho de 2024
Direção-Geral da Saúde, julho de 2024
Mayo Clinic, julho de 2024
Manual MSD, julho de 2024
MD.Saúde, julho de 2024
SNS24, julho de 2024

Publicado a 02/08/2024