Insónia
O que é?
É definida como uma experiência subjetiva de sono inadequado ou de qualidade limitada, apesar de existir uma oportunidade e condições adequadas para dormir, com prejuízo para o funcionamento social, ocupacional e de outras atividades diurnas.
Pode ainda ser definida como uma dificuldade em iniciar o sono (insónia inicial), dificuldade em mantê-lo (insónia intermédia), acordar muito cedo (insónia terminal) ou, embora com menor frequência, por uma queixa de sono não restaurador ou de má qualidade.
Quanto à duração, pode ser aguda (duração inferior a quatro semanas) ou crónica (duração superior a quatro semanas) com os sintomas a ocorrer pelo menos em três noites por semana.
O sono preenche aproximadamente um terço da vida e é fundamental para a recuperação física e psíquica do indivíduo. Vários estudos apontam para uma diminuição do seu tempo médio, da ordem de hora e meia, relativamente ao início do século passado. Por outro lado, nos países europeus o aumento dos gastos com os “medicamentos para dormir” é uma realidade e constitui uma preocupação crescente. As perturbações do sono constituem, portanto, um problema de saúde pública que requer uma intervenção quer a nível individual, quer num âmbito mais vasto.
Em Portugal, de acordo com os resultados obtidos em alguns estudos, 28,1% da população com mais 18 anos sofre de sintomas de insónia, pelo menos três noites por semana (nas pessoas com mais de 65 anos, as queixas de insónias chegam aos 50%), com repercussões negativas na saúde e na qualidade de vida. É o distúrbio do sono mais frequente no adulto e associa-se a importantes consequências, como o aumento da mortalidade causada por doenças cardiovasculares, distúrbios psiquiátricos, diabetes, acidentes e absentismo laboral. Cerca 69% dos doentes de uma consulta de Clínica Geral apresentam insónia e, apesar de afetar milhões de pessoas em todo o mundo, continua a ser sub-diagnosticada, razão pela qual muitos pacientes não recebem o tratamento adequado. Existem variações do sono ao longo da vida que são normais, mas a insónia nunca é normal. A insónia pode ser uma doença em si mesma, um sintoma de outra doença ou consequência de má higiene de sono e de vida. Por isso, deve ser corretamente avaliada e tratada.
Sintomas
Manifesta-se normalmente:
- Pela presença de um padrão do sono alterado, caracterizado pela dificuldade em adormecer, pela sua duração insuficiente, acordando demasiado cedo, por despertares frequentes ou prolongados e por variabilidade do padrão de noite para noite;
- Pela qualidade do sono, caracterizada por ansiedade ou agitação antes ou durante, sensação de cansaço ao acordar e experiências de sono desagradáveis, nomeadamente com pesadelos;
- Pelas sequelas diurnas, caracterizadas por sonolência, fadiga, dificuldade de concentração, falta de energia, ansiedade, depressão ou irritabilidade, problemas de aprendizagem e de memória que afetam o rendimento no trabalho e na escola. Por outro lado, pode ser a causa de acidentes graves, quando a sonolência ocorre durante a condução automóvel ou de outros veículos.
A insónia transitória (duração de uma a várias noites) é uma situação comum e sem consequências graves. A persistente ou crónica (duração de meses/anos) pode corresponder a uma situação de doença que deve ser avaliada pelo médico.
Causas
As mais frequentes de insónia aguda são o stress situacional (laboral, interpessoal, financeiro ou outro), ambiental (ruído no quarto) e morte ou doença de uma pessoa próxima.
No que se refere às causas, pode ser dividida em primária (não é provocada por condição física ou mental conhecida) ou secundária (originada por outra doença médica ou psiquiátrica, medicamentos, entre outros.). A prevalência da secundária é muito superior à da primária, e parece estar a aumentar.
Os distúrbios do humor e ansiedade estão presentes em 30% a 50% dos doentes com insónia; as doenças médicas (mais frequentemente a dor) são encontradas em 10% dos doentes, o abuso de substâncias é encontrado noutros 10% e apenas 10% parece resultar de distúrbios primários do sono.
As doenças psiquiátricas que mais frequentemente se apresentam com insónia, incluem depressão major e a ansiedade.
Estão descritos como fatores de risco o aumento da idade, género feminino, presença de outras doenças (doença médica, psiquiátrica, abuso de substâncias), escassas relações sociais, baixo nível socioeconómico, separação matrimonial ou de um parceiro, o desemprego e o trabalho por turnos.
A doença de Alzheimer e a de Parkinson também a podem originar, bem como as patologias que causam dor, dificuldade em respirar, problemas da tiroide ou digestivos, um acidente vascular cerebral ou a menopausa.
Diagnóstico
É fundamental uma correta história clínica, com o registo de um diário de sono, bem como informação complementar sobre o/a parceiro(a) para saber como ele(a) dorme.
O exame objetivo e o pedido de exames complementares de diagnóstico devem ser direcionados para a suspeita da causa secundária da insónia.
Tratamento
A insónia é um distúrbio comum que se pode manifestar pela dificuldade em adormecer no inicio da noite, pela manutenção do sono durante a noite ou por despertares precoces.
A terapia cognitivo-comportamental para a insónia, às vezes chamada CBT-I, é um tratamento eficaz para os problemas crónicos do sono e é recomendada como primeira linha de tratamento para a insónia.
A terapia comportamental cognitiva para a insónia é um programa estruturado em 5 semanas, que ajuda a identificar e substituir pensamentos e comportamentos que causam ou agravam problemas de sono por hábitos que promovem o sono profundo.
Ao contrário dos comprimidos para dormir, a CBT-I ajuda a superar as causas subjacentes dos problemas de sono.
Como funciona a terapia cognitivo-comportamental para a insónia?
A componente cognitiva da CBT-I ensina a reconhecer e a mudar as crenças que afetam a capacidade de dormir. Esse tipo de terapia ajuda a controlar ou eliminar pensamentos e preocupações negativas que inibem o sono.
A componente comportamental da CBT-I ajuda a desenvolver bons hábitos de sono e evita comportamentos que impedem o sono de qualidade.
Dependendo das necessidades de cada pessoa, o terapeuta do sono pode recomendar algumas destas técnicas de CBT-I:
- Terapia de controle de estímulos.
- Terapia de restrição de sono.
- Higiene do sono.
- Controle do ambiente do sono.
- Técnicas de relaxamento.
- Técnicas de controle de pensamentos.
- Permanecer passivamente acordado.
- Biofeedback.
A abordagem de tratamento mais eficaz pode combinar vários desses métodos.
Terapia cognitivo-comportamental vs. medicamentos
Os medicamentos para dormir podem ser um tratamento eficaz a curto prazo - por exemplo, eles podem proporcionar alívio imediato durante um período de grande stress ou tristeza. Mas eles não são o melhor tratamento para insónia de longo prazo.
A terapia cognitivo-comportamental para a insónia é o tratamento recomendado pelos colégios médicos mundiais, para problemas de sono de longo prazo.
Ao contrário dos comprimidos, a CBT-I trata as causas subjacentes da insónia, em vez de apenas aliviar os sintomas.
Prevenção
- É útil evitar substâncias que as agravam como a cafeína, o tabaco e outros estimulantes. Os efeitos dessas substâncias duram até oito horas;
- Alguns medicamentos para a gripe ou para as alergias podem afetar o sono;
- Uma bebida alcoólica antes de deitar facilita o início do sono, mas tende a torná-lo mais leve, com maior probabilidade de se acordar durante a noite;
- É igualmente útil adotar hábitos que facilitem o sono, como ler um livro, ouvir música ou tomar um banho quente;
- O exercício físico deve ser realizado pelo menos cinco a seis horas antes da hora de deitar e devem ser evitadas refeições muito pesadas;
- O quarto deve ter um ambiente confortável no que se refere a temperatura, iluminação e silêncio;
- Vale a pena tentar criar um ritmo, ir dormir e acordar às mesmas horas todos os dias, incluindo aos fins-de-semana.
Eleonora Paixão e col., Uma observação sobre a prevalência de perturbações do sono, em Portugal Continental, Observatório Nacional de Saúde, Janeiro 2006
Luís Filipe Cavadas e col., Abordagem Da Insónia Secundária Do Adulto Nos Cuidados de Saúde Primários, Acta Med Port 2011; 24: 135-144
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