As vantagens da cirurgia robótica
Tanto o doente como o cirurgião beneficiam com a cirurgia robótica, sempre que a sua utilização se adequa. Rui Prisco, urologista CUF, explica-lhe tudo.
Realizar uma cirurgia através da utilização de um robô pode parecer uma previsão futurista, mas, não só não o é, como há cada vez mais especialidades médicas que fazem do robô um aliado para obter melhores resultados. Mas como é que funciona exatamente a cirurgia robótica? E quais são as vantagens para o cirurgião e para o doente? Qualquer médico cirurgião pode fazer cirurgia robótica? Rui Prisco, urologista CUF, responde a estas questões e não só.
O que é a cirurgia robótica?
“Por cirurgia robótica entende-se toda a cirurgia que usa um sistema robotizado que serve de intermédio entre o cirurgião e o paciente”, refere Rui Prisco, acrescentando que, no caso da CUF, existe um sistema robótico Da Vinci Xi de última geração que é constituído por três módulos:
- Um módulo onde estão os braços robotizados.
- Uma consola onde o cirurgião está a operar afastado do paciente.
- Um sistema central, que consiste numa torre onde está inserido um processador considerado o “cérebro” do robô.
O cirurgião usa a consola para controlar, através de uns comandos manuais e uns pedais, os quatro braços do robô e o sistema de imagem.
As vantagens da cirurgia robótica para o cirurgião
Para o cirurgião que está a operar o doente, o uso do robô pode trazer várias vantagens. “A principal vantagem está relacionada com a visualização dos tecidos. É um sistema muito superior à visão do olho humano e permite-nos diferenciar tecidos de forma a não lesar estruturas que seriam lesadas de outra forma”, salienta Rui Prisco. A esta mais-valia, o urologista soma a mobilidade dos braços do robô, “que consegue mimetizar e melhorar os gestos do cirurgião, ou seja, o cirurgião consegue ter acesso a áreas que dificilmente conseguiria alcançar numa cirurgia convencional ou mesmo numa cirurgia laparoscópica”.
Para o doente operado também há vantagens?
Além do cirurgião, também o doente tem a ganhar com a cirurgia robótica. “A principal vantagem em relação ao paciente é que há uma menor lesão de tecido e uma melhor reconstituição funcional dos mesmos, tal como menos perdas sanguíneas. O doente vai recuperar globalmente melhor e sentir-se funcionalmente capaz de uma forma mais rápida. Isto vai fazer com que possa ter altas mais precoces e muito mais cedo consiga retomar a sua atividade normal, profissional ou não profissional”, explica Rui Prisco.
Em que especialidades é utilizada?
“A cirurgia robótica começou e nasceu com a Urologia”, afirma o especialista, mas, “neste momento, é muito usada também em Ginecologia, Cirurgia Geral e Cirurgia Torácica”. São estas as quatro especialidades em que é principalmente aplicada.
No Hospital CUF Porto, a cirurgia robótica iniciou-se em janeiro de 2023. Segundo Rui Prisco, já é utilizada em toda a patologia urológica. “Tem indicação primária base para cirurgia de cancro da próstata, para nefrectomias parciais e para cistectomias. É utilizado também em patologia benigna, tal como algumas hiperplasias benignas da próstata selecionadas, e cirurgia reconstrutiva".
A Cirurgia Geral também já realiza cirurgia robótica neste Hospital, nomeadamente na realização de cirurgia bariátrica e colorretal. Outra patologia em crescimento é a cirurgia herniária da parede abdominal.
Em breve, outras especialidades vão iniciar a sua atividade: a Ginecologia, nomeadamente na realização de patologia benigna como endometriose e patologia uterina, e em patologia oncológica; a Cirurgia Torácica, para tratamento de tumores pulmonares e mediastino e casos selecionados de pneumotórax; e a Cirurgia Cardíaca para tratamento de casos selecionados para tratamento da válvula mitral.
Aprender a operar com o robô
Antes de começar a operar com um robô, um cirurgião tem de passar por um processo de aprendizagem e obter uma certificação. De acordo com Rui Prisco, em primeiro lugar, são necessários vários módulos online e na consola do robô. O cirurgião inicia posteriormente um estágio prático num Centro a designar pelo representante do equipamento. Depois, esse centro vai dar indicação de que pode começar a operar. Contudo, o processo não termina aqui. “Quando um cirurgião retorna à sua instituição base, neste caso, o Hospital CUF Porto, nunca consegue nem pode operar sozinho, nem está certificado para isso. Vem sempre alguém tutelar a cirurgia e só quando essa pessoa dá o aval da certificação completa é que o cirurgião está habilitado a operar sozinho. Isto tem que ver com questões de segurança e formação, essencialmente”, explica o urologista.
Sem o cirurgião, o robô não opera
“O robô não substitui o papel do cirurgião, o robô é quase como uma extensão do cirurgião para dentro do doente”, afirma Rui Prisco, explicando que “o que nós podemos dizer é que o robô aperfeiçoa os nossos gestos, filtra os nossos tremores, consegue ter acesso a sítios a que nós dificilmente teríamos acesso e, na prática, podemos dizer que, nas patologias selecionadas para cirurgia robótica, o cirurgião torna-se um melhor cirurgião utilizando um robô”.