As vantagens da tiroidectomia robótica
Além de uma cicatriz invisível, a tiroidectomia robótica traz outras vantagens. Nuno Pinheiro e Carlos Leichsenring, cirurgiões gerais CUF, contam-lhe tudo.
Os nódulos da tiroide são uma doença bastante frequente: “A partir dos 50 anos, cerca de 50% da população vai ter um nódulo na tiroide”, conta Carlos Leichsenring, cirurgião geral CUF. E o que são exatamente nódulos da tiroide? Segundo nos explica o também cirurgião geral CUF Nuno Pinheiro, “são um crescimento anormal de algumas células da glândula tiroide, que se podem agrupar e ter um conteúdo líquido, que são os quistos; coloide, que são os nódulos coloides; ou mais sólidos, que são aqueles que podem vir a ser suspeitos de ser malignos”. Nem todos devem ser removidos, mas quando há essa indicação, a cirurgia robótica pode ser opção.
Esteja atento a estes sinais
Saber a que sinais devemos estar atentos é muito importante, pois é através da sua deteção que partimos para a procura de uma opinião médica. Segundo Nuno Pinheiro, alguns desses sinais incluem “o aparecimento de uma massa na região cervical”, que devemos avaliar “se tem um crescimento rápido e se é dura. Muitas vezes, esta massa pode ser acompanhada de uma certa rouquidão”. Carlos Leichsenring acrescenta ainda outros sintomas clínicos que devem ser valorizados e que estão associados a “hiperfunção da tiroide - ou seja, em que há uma grande produção de hormonas tiroideias -, que são ansiedade, perda de peso, grande intolerância ao calor, diarreia”.
Perante sinais suspeitos, a primeira coisa a fazer é “ir ao seu médico assistente, que provavelmente vai pedir uma ecografia e depois encaminhá-lo para uma consulta de especialidade, quer de Endocrinologia quer de cirurgia da tiroide, onde será feito o resto do estudo. Quanto mais cedo se fizer o diagnóstico, mais cedo se faz o tratamento e os resultados são obviamente melhores”, salienta Nuno Pinheiro.
Em que casos os nódulos da tiroide devem ser removidos?
Todos os nódulos devem ser retirados? A resposta é não. Alguns apenas têm indicação para seguimento. “As indicações para cirurgia depois são mais restritas”, afirma Carlos Leichsenring, enumerando os casos em que se deve proceder à sua remoção cirúrgica:
- Nódulos maiores, que têm uma deformidade estética
- Nódulos hiperfuncionantes, que produzem hormonas em excesso
- Nódulos suspeitos ou confirmados de serem um carcinoma - no topo da lista de critérios para cirurgia
- Nódulos que provocam sintomas compressivos, isto é, que crescem e comprimem outras estruturas no pescoço, nomeadamente, a traqueia, provocando tosse, alguma dificuldade respiratória, disfonia (ou rouquidão) e alguma dificuldade na deglutição
O que mudou com a cirurgia robótica?
“A cirurgia robótica da tiroide vem-nos dar mais uma ferramenta para tratarmos os nossos doentes”, salienta Nuno Pinheiro. Esta técnica traz várias vantagens para o doente, mas, para este especialista, há uma que se destaca: a ausência de uma cicatriz na região cervical. “Fazemos uma cicatriz debaixo da axila, que fica escondida”, explica.
Segundos os cirurgiões, outras vantagens da tiroidectomia robótica são:
- Boa qualidade de imagem, a 3D e com muito pormenor
- Visão ampliada
- Diminuição do tremor do cirurgião
- Precisão de gesto
- Maior conforto para o cirurgião, que está sentado na consola, numa posição ergonomicamente mais agradável do que estar de pé a operar durante algumas horas
Como é feita a tiroidectomia robótica?
A cirurgia robótica pode parecer uma técnica do futuro, não sendo sempre fácil compreender como é feita. No caso específico da tiroidectomia, Nuno Pinheiro explica em que consiste o processo: “Na minha perspetiva, a técnica robótica compreende três fases. A fase de manufatura do acesso, em que fazemos um túnel entre a axila e a região cervical. Depois, aquilo que a nós chamamos o docking, que consiste em aplicar as hastes que vão ter as pinças para trabalhar, feito através da incisão. E, por fim, temos a parte da consola, onde está o cirurgião a manusear essas pinças e a fazer o procedimento sobre a tiroide”. Neste tipo de procedimento, o cirurgião está numa sala à parte do bloco de operações, a manusear a tal consola.
Todos os doentes são elegíveis?
A tiroidectomia robótica é uma técnica relativamente recente, conta-nos Carlos Leichsenring e, embora a maioria dos doentes seja um candidato a esta abordagem, “o nosso limite, no fundo, acaba por ser um limite de dimensão. Ou seja, bócios muito volumosos podem colocar-nos algumas dificuldades técnicas de espaço de acesso. Nestes casos, a técnica convencional, com o acesso cervical, continua a ser a indicação principal”.
Uma técnica pioneira em Portugal
Em Portugal, a primeira tiroidectomia robótica foi feita por cirurgiões da CUF Descobertas em fevereiro de 2019, que se deslocaram à CUF Tejo, onde está alocado o robô DaVinci. Contudo, se pensa que a cirurgia robótica apenas dá cartas na tiroide, desengane-se. Segundo o cirurgião geral Carlos Leichsenring, “a cirurgia robótica obviamente não se limita à cirurgia da tiroide. Talvez este seja dos campos que está agora mais em desenvolvimento, mas a cirurgia robótica tem muitas vantagens em várias áreas. No caso da Cirurgia Geral, a cirurgia da obesidade, a cirurgia do reto, a cirurgia colorretal são tudo áreas que estão em grande desenvolvimento. Outra das áreas é a cirurgia da parede abdominal, das hérnias abdominais, que tem tido um aumento exponencial no número de casos e com ótimos resultados ”. Nuno Pinheiro concorda, acrescentando: “Cada vez mais se vai observar a expansão da cirurgia robótica para outro tipo de patologias porque é mais ergonómica para o cirurgião, diminui o tremor, tem uma boa visibilidade e, por outro lado, também tem algumas vantagens do ponto de vista das incisões, são mais pequenas, e, portanto, o pós-operatório é mais confortável. Desde que se tenha os mesmos resultados clínicos, tem toda a vantagem”.