Aquablação: mais precisão, menos efeitos

Um tratamento cirúrgico inovador da hiperplasia benigna da próstata
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Saúde do homem
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0 % de incontinência e preservação da função sexual são duas vantagens da aquablação. Conheça esta técnica para o tratamento da hiperplasia benigna da próstata.

A hiperplasia benigna da próstata é uma doença muito prevalente entre os homens mais velhos, afetando-os sobretudo a partir dos 50 anos. E a previsão é a de que os números desta doença subam, acompanhando a tendência do aumento da longevidade da população masculina. A boa notícia são as inovações tecnológicas que têm sido feitas no tratamento cirúrgico desta doença, oferecendo melhores resultados, com maior qualidade de vida para o doente. Um desses avanços é a aquablação, que consiste num procedimento robotizado através de um jato de água bastante preciso. Estevão Rodrigues Lima e Paulo Vale, urologistas CUF, explicam tudo sobre o Aquabeam®.



O que é a hiperplasia benigna da próstata (HBP)

A hiperplasia benigna da próstata é, explicando de forma muito simples, o aumento da próstata com a idade, causando sintomatologia urinária. Segundo Estevão Rodrigues Lima, “com a idade, ou seja, conforme o homem vai envelhecendo, a próstata vai crescendo e como a uretra, que é o ‘cano’ usado para esvaziar a bexiga, passa pelo meio da próstata, muitas vezes, esse próprio crescimento da próstata vai comprimindo a uretra e dificultando o esvaziamento da bexiga, que causa queixas urinárias”. Paulo Vale acrescenta que este fenómeno ocorre a partir dos 45/50 anos e não se sabe ainda a causa.

 

Sabia que...

“A próstata é um órgão sexual masculino que contribui com a maior parte do volume de líquido do esperma, fundamental para dar a vitalidade ao espermatozoide para que ele seja capaz de progredir, penetrar no óvulo e gerar uma gravidez”, explica Paulo Vale.

 

Grupos mais afetados

“A hiperplasia benigna da próstata é uma doença altamente prevalente nos homens com o avançar da idade”, afirma Estevão Rodrigues Lima, referindo alguns dados: “Se nos homens entre os 30 e os 40 anos apenas 8 % são afetados, naqueles com mais de 50 anos, cerca de 40 a 50 % vão ter hiperplasia benigna da próstata, ou seja, vão ter sintomatologia. Mas quando olhamos para a população ainda mais idosa, com mais de 80 anos, 80 % desses homens vão ter queixas urinárias baixas [no aparelho urinário baixo, isto é, de origem vesical ou prostática]”.

E crê-se que estes números tenderão a aumentar. “São 1,2 milhões os homens portugueses com mais de 51 anos. Sabemos que entre os 50 e 60 anos, um em cada dois doentes tem hiperplasia benigna da próstata, dos quais uns vão tendo mais ou menos sintomas. Na próxima década, o número de homens com 65 anos vai duplicar. Ou seja, vamos ter muitos homens com sintomas resultantes de hiperplasia benigna da próstata”, afirma Paulo Vale.

 

O estilo de vida influencia o crescimento da próstata?

A resposta é simples: não. “A hiperplasia benigna da próstata não tem causas ambientais que a originem. O aumento da próstata não resulta de tipo de alimentação, se praticou ou não exercício físico. Resulta apenas do facto de o homem produzir testosterona após a puberdade, essa testosterona vai induzindo o crescimento da próstata e, muitas vezes, a uretra que passa pelo meio dela é comprimida. Isto muitas vezes tem um componente quase que genético. É quase o que existe em paralelo em relação ao tamanho, por exemplo, da glândula mamária numa mulher. Independentemente da prática de exercício físico ou do tipo de alimentação, o tamanho da mama não vai resultar destes fatores ambientais”, explica Estevão Rodrigues Lima.

 

Alguns sintomas a ter em atenção

Na hiperplasia benigna da próstata, as queixas advêm do crescimento que vai comprimindo a uretra e, como tal, vai havendo uma gradual diminuição do calibre e projeção do jato urinário, “há um aumento da frequência urinária, há uma sensação de um esvaziamento que não é completo e um outro fator que, esse sim, é muito impactante na qualidade de vida do doente, que é a noctúria, ou seja, o número de vezes que o doente tem de urinar durante a noite” explica Paulo Vale, referindo que estes sintomas vão surgindo de forma gradual e em crescendo. Estevão Rodrigues Lima acrescenta ainda a esta lista outro tipo de sintomatologia que, refere, pode depois traduzir-se em situações mais graves: “Como, por exemplo, o jato urinário parar a meio, uma sensação de dificuldade inicial a querer urinar, uma imperiosidade muitas vezes de urinar rapidamente, ter que ir a uma casa de banho, por vezes, pode ocorrer até incontinência urinária.”

 

Abordagens de tratamento

“Os tratamentos da hiperplasia benigna da próstata dividem-se classicamente em tratamentos médicos, sem necessidade de qualquer tipo de intervenção cirúrgica, e aqueles com necessidade de intervenção cirúrgica. Em relação ao tratamento médico, tem havido muito pouca evolução nos fármacos disponíveis”, começa por explicar Estevão Rodrigues Lima. “Habitualmente, começamos por terapia médica, com medicação oral, que alivia os sintomas, mas não trata a doença, e o que acontece é que pode ter alguns efeitos secundários e ao fim de algum tempo não há o mesmo tipo de resposta. Aí temos de passar para a cirurgia”, acrescenta Paulo Vale. É o caso, por exemplo, de homens que começam a “entrar em retenção urinária, têm infeções urinárias de repetição, têm complicações, como, por exemplo, insuficiência renal, a presença de pedras dentro da bexiga ou divertículos vesicais”, enumera Estevão Rodrigues Lima.

Quanto às técnicas cirúrgicas utilizadas no tratamento da hiperplasia benigna da próstata, têm sido dados importantes passos para diminuir os efeitos secundários e para que sejam o menos invasivas possível. “Durante décadas, foi-se tentando evoluir, com vários tipos de cirurgias clássicas - prostatectomia aberta, laparoscópica, RTUP (Ressecção transuretral de próstata), laser, enucleação (remoção de uma massa por inteiro) -, tudo técnicas já muito estabelecidas, mas que têm alguns efeitos colaterais importantes. Tem-se feito um esforço tecnológico muito grande no sentido de resolver o problema, preservando a parte urinária e a parte sexual”, afirma Paulo Vale.

 

Como funciona a aquablação?

“A aquablação é a grande revolução do presente”, sublinha Estevão Rodrigues Lima, que explica que esta técnica “veio permitir fazer um procedimento robotizado automático, ou seja, praticamente não depende das habilidades do cirurgião”, o que se traduz numa “curva de aprendizagem para o próprio cirurgião extremamente curta, em que permite uma ablação (ou seja, desbastar) do tecido da próstata que está a causar a obstrução de uma forma muito rápida e precisa, com resultados excecionais”. Paulo Vale acrescenta ainda que este procedimento, considerado cientificamente comprovado pela Associação Europeia de Urologia, pode ser aplicado a próstatas de qualquer volume, ao contrário de técnicas anteriores, e que “é de uma eficácia tremenda porque permite-nos um controlo do que estamos a fazer”. O urologista explica ainda o seu funcionamento: “É utilizada uma sonda ecográfica anal, que nos dá o desenho da próstata, assim como um aparelho na uretra, que também permite ver a próstata. Assim, conseguimos desenhar o contorno, perfilar o volume e verificar o que está a causar a obstrução”. Depois, o ‘trabalho’ é feito pelo robô, controlado pelo cirurgião. “Com um jato de água de alta pressão, com uma precisão milimétrica, o robô vai fazendo o desbaste de todo o tecido que está a obstruir a uretra, aspira-o, e vai ficar um canal tal como fica nas cirurgias clássicas, mas com um grau de precisão enorme, com uma rapidez muito grande”, completa.

 

Vantagens da aquablação para o doente

O tratamento cirúrgico da hiperplasia benigna da próstata através de Aquabeam® pode trazer várias vantagens para o doente, não só a nível urinário como sexual. Estevão Rodrigues Lima enumera algumas delas: “São taxas de incontinência de 0 %, ótimas taxas de melhoria da capacidade de micção, e uma coisa que é única, que mais nenhum tratamento tem: a capacidade de preservar a função sexual. Isto significa capacidade erétil em 100 % dos casos e capacidade de preservar a ejaculação em 89,2 % dos casos”.

Além disso, outra vantagem “é que praticamente todos os casos de pacientes com hiperplasia benigna da próstata, independentemente do tamanho e da forma, estão dentro do espetro da utilização do Aquabeam®. Há poucos casos em que há contraindicação, como, por exemplo, um indivíduo que é hipocoagulado e que não pode suspender a hipocoagulação”.

 

Como decorre a recuperação depois do Aquabeam®

“A recuperação é rápida. O doente fica internado um dia e sai sem algália. Durante uma semana, mais ou menos, tem de evitar esforços, pesos, etc. Nas outras técnicas tem de haver quase um mês de repouso e um internamento de 3-4 dias”, salienta Paulo Vale. Além disso, outra vantagem desta técnica na recuperação é que praticamente todos os doentes vão para casa “sem qualquer sintomatologia irritativa, que é uma das desvantagens quando se usavam, por exemplo, lasers”, afirma Estevão Rodrigues Lima, acrescentado que, “muitas vezes, se associavam com um aumento da frequência urinária, uma certa ardência ao urinar. A nossa experiência com este tipo de jato de água é que não causa inflamação nem causa qualquer coagulação, não dá esse tipo de sintomatologia”.

 

Quando consultar um urologista

A recomendação de Estevão Rodrigues Lima e de Paulo Vale é que, de um modo geral, homens sem história familiar de hiperplasia benigna da próstata, consultem o seu urologista a partir dos 50 anos. Já quem tem história familiar deve antecipar essa primeira consulta para os 40 anos. “Depois, o seu urologista aconselhará a regularidade da vigilância da situação clínica”, acrescenta Paulo Vale, ressalvando que “não estamos a falar de cancro. Quando há história familiar de cancro da próstata é aconselhado ir mais cedo”.

No entanto, independentemente da idade, é importante estar-se atento aos sinais que devem motivar uma ida ao urologista:

  • Deteção de algum grau de diminuição do jato (mais fraco)
  • Aumento da frequência urinária
  • Começar a levantar-se de noite para urinar
  • Levar mais tempo a urinar
  • Sensação de que não se esvazia a bexiga
Publicado a 26/10/2023