O que é?

A dor ciática corresponde à presença de dor, fraqueza, adormecimento ou formigueiros numa perna.

Não é uma doença mas sim um sintoma de uma condição médica subjacente. A dor ciática inclui dor, formigueiro, fraqueza ou adormecimento que se originam na zona lombar, descem pela região glútea até à porção posterior da perna, acompanhando o trajeto do nervo ciático. Este é o mais longo do corpo e estende-se da região lombar da medula espinal até à região posterior de cada perna, enviando depois ramificações até ao pé. A dor ciática resulta da compressão ou irritação deste nervo e, por isso, acompanha o seu curso.

A sua frequência varia, conforme os estudos, entre 1,6% e 43% das populações avaliadas. É mais comum na meia-idade, ocorrendo raramente antes dos 20 anos. De um modo geral, a evolução é favorável mas em cerca de 30%, os sintomas duram um ano ou mais.

A maioria dos casos resulta de uma hérnia de um disco intervertebral que comprime uma raiz nervosa. Outras causas possíveis são apertos do canal que envolve a medula espinal, e tumores ou quistos que comprimem as raízes nervosas.

Sintomas

Os sintomas podem variar dependendo do tipo, localização e gravidade da condição que provoca a dor ciática. De um modo geral, é intensa e aguda e ocorre apenas numa das nádegas ou pernas, embora raramente possa atingir os dois lados. 

A posição sentada tende a agravar a dor, que se acompanha de uma sensação de queimadura ou de formigueiro. Pelo contrário, há melhoras quando se está deitado ou durante a marcha, mas, quando é muito intensa, pode tornar difícil estar de pé ou caminhar. A tosse ou o espirrar podem acentuar a dor. Esta pode atingir a região lombar da coluna, embora seja mais intensa na perna.
A presença de fraqueza ou de sensação de adormecimento podem tornar difícil o movimento da perna ou do pé. Esta dor pode ser inconstante ou permanente, tornando-se, neste caso, incapacitante.  Na maioria dos casos, há melhorias ao fim de algumas semanas ou meses, apenas com recurso a analgésicos. Se os sintomas forem muito graves ou incapacitantes pode ser necessário uma cirurgia. 

Embora os sintomas da dor ciática possam ser muito incapacitantes, é raro ocorrer lesão permanente e irreversível do nervo.  

Causas

Quando o conteúdo gelatinoso de um disco extravasa, comprime as raízes nervosas que constituem o nervo ciático. Essas raízes ficam inflamadas e irritadas pelas substâncias químicas que se libertam do núcleo do disco. A dor resulta da compressão do nervo ciático, que pode acontecer por fora ou por dentro do canal onde passa a medula espinal. Esta constrição pode ser causada por uma hérnia discal (a causa mais comum), uma contratura muscular em torno do nervo ciático, um aperto do canal onde passa a medula espinal ou um desalinhamento de uma vértebra. Com frequência, um determinado evento ou trauma não desencadeia imediatamente a dor ciática, só depois é que ela se vai desenvolvendo.

Os corredores podem ser afectados por esta lesão dada a natureza da corrida, que cria uma força compressiva sobre a coluna que corresponde a cerca de quatro vezes o seu peso. Esse fenómeno provoca alterações degenerativas na coluna, como o estreitamento do canal, alterações articulares ou herniação de um disco.

Diagnóstico

Para além da história clínica e da observação médica cuidadosa, o diagnóstico da dor ciática baseia-se em métodos de imagem, como a ressonância magnética. Podem ser importantes outros exames neurológicos para avaliar o estado do nervo ciático. A maioria dos casos de ciática corresponde a uma compressão nas raízes nervosas da quinta vértebra lombar (L5) ou da primeira da coluna sagrada (S1).

Tratamento

Considerando que é um sintoma, o tratamento consiste na resolução das suas causas. Para a maioria das pessoas, o tratamento é conservador, estando a cirurgia reservada para os casos mais graves. Cerca de 80% a 90% das situações resolvem-se sem cirurgia e cerca de metade das crises dura menos de seis semanas.

O recurso ao exercício físico devidamente programado e ao calor ou frio para alívio da dor e do espasmo são boas opções não médicas. Também a fisioterapia consegue bons resultados. Embora o repouso seja importante, deve-se procurar manter algum grau de atividade, uma vez que o movimento ajuda a reduzir a inflamação. 

Os medicamentos anti-inflamatórios e os relaxantes musculares ajudam a reduzir a dor e a inflamação. Mas podem apresentar efeitos secundários e devem ser sempre prescritos pelo médico em função dos antecedentes de cada paciente. Perante casos de dor muito intensa, pode dar-se uma injeção de corticoides na região epidural, para reduzir mais rapidamente a inflamação.

Existem ainda vários outros tipos de tratamentos alternativos como a manipulação vertebral por um quiroprata, a acunpuntura, a terapia de comportamento cognitivo ou a osteopatia.

Em geral, a maioria dos casos de ciatalgia resolvem-se num período entre as quatro e as doze semanas. Após o alívio da dor aguda o doente deve entrar num programa de reabilitação para melhorar vários aspetos da postura viciosa e muitas vezes agravada pela dor, impedindo assim que outras crises se estabeleçam. A avaliação ergonómica do posto de trabalho bem como a avaliação do estilo de vida podem também contribuir para diminuir a frequência das crises de dor ciática e lombar recorrente.

A cirurgia só está indicada quando a dor é tão intensa que se torna incapacitante, compromete a bexiga e o esfíncter anal, prejudica a força muscular, não melhora ao fim de seis a 12 semanas e visa corrigir a causa da compressão do nervo ciático. Sendo a hérnia discal a sua origem mais comum, a remoção do disco intervertebral que provoca essa constrição é a intervenção mais frequentemente realizada, permitindo um alívio sintomático em 90% a 95% dos doentes. Após a cirurgia é importante evitar a condução, a posição sentada durante longos períodos, levantar pesos ou a flexão do tronco durante cerca de um mês. Poderão ser recomendados exercícios para a extensão da coluna. No entanto, em cerca de 5% dos casos, pode ocorrer nova rotura de disco, e ao fim de cinco anos, os estudos indicam o regresso das dores nas costas para uma percentagem elevada de casos.

Prevenção

Embora os processos degenerativos que conduzem à hérnia discal não possam ser evitados, existem algumas medidas que ajudam a proteger a coluna.

É importante adotar técnicas corretas de levantar de pesos, mantendo as costas direitas. Uma postura correta em todos os momentos é relevante para ajudar a reduzir a pressão sobre a coluna. O exercício físico fortalece os músculos das costas e os abdominais, e tem igualmente efeitos benéficos. Não se deve estar sentado durante longos períodos de tempo. E finalmente, o tabaco deve ser evitado já que acelera a degeneração dos discos intervertebrais.


 

Fontes

Roberto Basile Júnior e col., Lesões da coluna vertebral nos esportes, Rev Bras Ortop, Vol. 34, Nº 2, Fevereiro, 1999

Spine-health.com, 2012

American Academy of Orthopaedic Surgeons, 2013

North American Spine Society

Mayo Foundation for Medical Education and Research, Jan 2013

Inês Campos e col., Lombalgia no desporto. Indicações da fisioterapia, www.revdesportiva.pt, Março 2010

The Cleveland Clinic Foundation, 2010

Manish Kumar e col., Epidemiology, Pathophysiology and Symptomatic Treatment of Sciatica: A Review , International Journal of Pharmaceutical & Biological Archives 2011; 2(4):1050-1061

Conteúdo elaborado com o apoio de InfoCiência