A importância da vigilância nas doenças cardiovasculares
O peso das doenças cardiovasculares no número total de óbitos em Portugal motiva uma preocupação acrescida sobre os muitos doentes crónicos desta área, segundo Mário Martins Oliveira, Cardiologista no Hospital CUF Porto e Coordenador de Cardiologia do Hospital CUF Infante Santo. “Nas faixas etárias mais avançadas, a presença de doença cardiovascular com envolvimento cardíaco é muito grande. [Devido à pandemia], muitos destes doentes perderam consultas, exames e os chamados internamentos eletivos. Um conjunto de fatores que levou a que muitos descontrolassem e descompensassem a sua doença crónica”, alerta.
Como consequência, surgem agora nas consultas situações mais difíceis de debelar, como a da doente com uma fibrilhação auricular paroxística (arritmia) que o cardiologista assistiu em janeiro e a quem recomendou uma ablação, isto é, uma intervenção com cateteres usada no tratamento da arritmia. “Só a voltei a ver em maio quando me procurou já com insuficiência cardíaca”, lamenta Mário Martins Oliveira. “Ficou com uma arritmia durante tanto tempo que passou para uma fase mais adiantada da doença.”
Os casos de insuficiência cardíaca têm vindo a aumentar em Portugal, uma tendência que se deverá manter. Dados de 2014 da Direção-Geral da Saúde chegam a apontar esta patologia como a segunda maior a nível de atribuição de recursos pelos sistemas de saúde, com quase 19 mil internamentos e elevada mortalidade hospitalar. Apesar de tudo, é uma situação clínica que continua a ser desvalorizada por uma grande parte da população.
Para haver um bom controlo da insuficiência cardíaca é necessário um acompanhamento clínico constante. “Hoje dispomos de tratamentos que nos tem permitido resultados fantásticos. Quando temos o doente otimizado do ponto de vista da abordagem terapêutica inovadora, conseguimos reduzir a mortalidade em 50%, o que é impressionante. E conseguimos reduzir os internamentos em 60 a 70%”, explica Mário Martins Oliveira.
Igualmente determinantes são os comportamentos que devem ser mantidos no dia a dia. Nos primeiros meses de 2020, apesar dos apelos por parte das autoridades para que se mantivesse o exercício regular – o chamado “passeio higiénico” –, registou-se um decréscimo da atividade física. “Começámos a receber muitos telefonemas de doentes que se queixavam que tinham os pés inchados. Em doentes crónicos, seja com patologia venosa ou cardíaca, insistimos muito na realização da marcha diária, que funciona como uma espécie de ‘coração periférico’, empurrando o sangue para cima e diminuindo a acumulação de sangue nos membros inferiores”, explica o cardiologista.
É importante que doentes e familiares estejam atentos aos sinais que podem indiciar um agravamento da doença. No caso da insuficiência cardíaca, as manifestações são diversas e nem sempre simultâneas. “Um doente que comece a ter muita dificuldade em subir escadas ou a caminhar num plano inclinado, algo que até então fazia bem, que tenha de parar para respirar porque fica com falta de ar, que ao final do dia fique com os pés de tal forma inchados que não lhe cabem nos sapatos... tem de procurar rapidamente ajuda numa consulta de Cardiologia”, aconselha Mário Martins Oliveira.
O tempo é essencial no tratamento de doenças agudas
Ainda no campo das doenças cardiovasculares, também os casos de doença aguda devem ser tratados com a maior rapidez possível, com recurso obrigatório à urgência hospitalar - não só para evitar sequelas do presente evento cardíaco como também para fazer uma prevenção secundária de episódios futuros: “Se um doente tiver um Acidente Vascular Cerebral (AVC) e não fizer nada, a probabilidade de o AVC se repetir no ano seguinte é de um terço”, explica Mário Martins Oliveira. “Esta prevenção secundária consiste em estratégias destinadas a evitar que o acidente se repita – como o início da terapêutica para controlar a hipertensão, as gorduras do sangue, e medicação antitrombótica – e a recuperar o melhor possível a função do órgão afetado através da reabilitação.”
Também no caso do enfarte do miocárdio a rapidez na prestação de cuidados médicos é essencial. “Se forem tratados durante a primeira hora através de uma angioplastia primária, que vai desobstruir o vaso, estes doentes conseguem ficar sem nenhuma cicatriz e com o coração quase normal. Mas por cada hora que passa perde-se mais miocárdio e há uma maior probabilidade de complicações arrítmicas que podem originar morte súbita”, alerta o cardiologista./p>
Para garantir que os doentes afetados por um enfarte do miocárdio são tratados atempadamente, está implantada em Portugal a Via Verde Coronária, que cobre o país e tem equipas especializadas preparadas para atuar 24 horas por dia numa rede de hospitais da qual fazem parte o Hospital CUF Infante Santo, em Lisboa, e o Hospital CUF Porto.
Tal como acontece com o AVC, um enfarte não tratado pode ter consequências graves. É a prevenção secundária, iniciada logo a seguir ao enfarte, que vai permitir diminuir o risco de arritmias, evitar o aparecimento de novos coágulos e recuperar a força contráctil do coração. A isto junta-se ainda o processo de reabilitação cardíaca, essencial no regresso à vida ativa. “É um processo que começa precocemente depois do enfarte e tem, em média, 12 semanas de duração, no qual o doente vai ao hospital três vezes por semana, como se fosse a um ginásio. Com a particularidade de que vai a um espaço para treinar, monitorizado por terapeutas e cardiologistas, e faz exercícios estudados cientificamente para aumentar a sua capacidade funcional e melhorar a sua qualidade de vida”, explica Mário Martins Oliveira.
A rapidez com que o doente chega ao Atendimento Permanente é o fator determinante para o sucesso do tratamento, por isso é importante vencer receios. “Neste momento, é seguro as pessoas irem à urgência e ao hospital. Há máscaras e gel desinfetante à entrada, as consultas são espaçadas, as salas de espera têm lugares intervalados, os acompanhantes só entram quando é absolutamente necessário e, no gabinete, a distância entre médico e doente é de dois metros”, assegura o clínico. “As pessoas não devem deixar de ir ao hospital fazer os seus exames programados. Não devem deixar de ir às consultas. Não devem deixar de ir à urgência quando há sinais de alarme.”
- Falta de força num dos lados do corpo
- Desvio da face
- Alteração da visão
- Dor de cabeça intensa
- Tonturas
- Dificuldade na articulação da fala
- Dor no peito que irradia para o braço
- Falta de ar
- Náuseas e suores
- Cansaço súbito
- Sensação de desmaio
- Falta de coordenação de movimentos