Rotinas que valem a pena

Graça Carvalho

Não interessa o género ou a idade: existem hábitos de vigilância e prevenção que devem ser mantidos sempre. E, nos primeiros anos de vida, as consultas de rotina ganham uma importância redobrada, já que permitem avaliar o crescimento e o desenvolvimento da criança e ainda estimular comportamentos promotores de saúde.

“As rotinas são uma mais-valia na prevenção”, afirma Graça Carvalho, Coordenadora de Pediatria do Hospital CUF Viseu. “O resultado dos cuidados de saúde preventivos são crianças com desenvolvimento adequado, sem desnutrição, obesidade ou doenças prevenidas pela vacinação.”



Graça Carvalho lembra que é durante estes encontros regulares com o pediatra que este pode alertar os pais para sinais que justifiquem observação de urgência ou detetar situações graves – malformações congénitas, alterações neurológicas ou alterações de comportamento, por exemplo – ainda numa fase precoce, possibilitando a sua correção. “Nos primeiros dois anos de vida as consultas de rotina não devem ser adiadas. Os timings são definidos em idades-chave, que correspondem a acontecimentos importantes na vida do bebé e, na maioria, coincidentes com a administração de vacinas”, refere a pediatra, alertando ainda para a necessidade de manter o plano de vacinação em dia. “ A vacinação não deve ser adiada, não só pela imunidade conferida à própria criança mas também, em alguns casos, pela imunidade de grupo. Além de constituir um risco grave para a criança, não cumprir ou adiar a toma de vacinas pode ainda implicar o ressurgimento de ‘velhas’ doenças, como aconteceu recentemente com o sarampo.”

Graça Carvalho não hesita em considerar o Plano Nacional de Vacinação (PNV) de Portugal como um dos melhores do mundo. “Se uma criança o cumprir, ao primeiro ano de idade está protegida contra 11 doenças. Existe ainda a possibilidade de optar por vacinas extra-PNV, ficando nesse caso a criança protegida contra 16 doenças infeciosas.” A pediatra lembra ainda que muitas das doenças para as quais as vacinas conferem proteção são graves, como a meningite ou o tétano, cuja letalidade é muito superior à COVID-19. Outras, como o sarampo, são muito mais contagiosas.

Existem ainda outras situações às quais os pais se devem manter atentos, já que exigem observação médica imediata. “A febre, por si só, não é um motivo para consulta urgente, já que grande parte dos casos corresponde a infeções virusais, na sua maioria benignas e sem complicações. Mas existem doenças graves, que cursam com febre – meningite, sepsis, pneumonia, entre outras – e, nestes casos, o adiamento da observação pode ser fatal.” Se uma criança está febril mas se mantém ativa e continua a brincar nos períodos sem febre, sob o efeito do antipirético, Graça Carvalho recomenda que seja observada apenas se a febre persistir por mais do que três dias. “No entanto, se a criança está prostrada, muito sonolenta, pálida, com queixume constante, vómitos contínuos ou manchas no corpo, tem de ser observada”, alerta a médica. Outros sintomas que implicam o recurso à urgência pediátrica são desmaios, vómitos incontroláveis e dificuldades respiratórias, bem como traumatismos, intoxicações e queimaduras.