LASIK: a cirurgia laser que permite evitar os óculos

Miopia, astigmatismo e hipermetropia levam frequentemente à utilização de óculos ou lentes de contacto. A cirurgia LASIK pode devolver uma boa visão.

A acuidade visual, a capacidade de ver bem a várias distâncias, com nitidez, depende muito da refração da luz ao atravessar a córnea e o cristalino (lente natural), até à retina. Os erros refrativos levam na maioria das vezes à necessidade de usar óculos ou lentes de contacto. “Os erros refrativos mais comuns são a miopia, a hipermetropia, o astigmatismo e a presbiopia”, afirma Fernando Vaz, oftalmologista CUF. Indica que a miopia “é o mais impactante nos mais jovens”, enquanto que a presbiopia está ligada à idade, pois “todas as pessoas, depois dos 45 anos, começam a ver mal ao perto”. De uma forma geral, explica o oftalmologista CUF Miguel Trigo, “as pessoas míopes veem bem ao perto e veem mal ao longe; as pessoas hipermétropes veem mal ao perto e menos mal ao longe; e as pessoas com astigmatismo veem sempre a imagem ligeiramente desfocada, ou muito desfocada”.

A forma mais simples de corrigir os erros refrativos passa pelo uso de óculos ou lentes de contacto. Em muitos casos, a cirurgia também é uma opção, como a colocação de lentes intraoculares ou o LASIK, uma intervenção a laser rápida, simples e segura que permite aumentar a qualidade de vida. 



O que causa os erros refrativos? 

Ao longo do envelhecimento, há uma degradação gradual na visão das pessoas, no entanto, os erros refrativos podem surgir logo na infância ou juventude, principalmente a miopia. Segundo o oftalmologista Fernando Vaz, “a prevalência da miopia na Europa ocidental anda à volta dos 20 %, 30 %” e a tendência é para aumentar, estimando-se que possa chegar a “50 % da população jovem com miopia, como já acontece no Oriente”.

Miguel Trigo explica que nesses países “as pessoas vivem em áreas muito povoadas, com muitas pessoas, em ambientes muito pequenos”. E isso leva a que se passe cada vez mais tempo em espaços interiores. “A miopia desenvolve-se menos se houver uma estimulação direta pela luz da retina periférica e isso só consegue ser feito em ambientes abertos”, com atividade ao ar livre, “desportiva ou outra, que propicie esse tipo de estimulação da retina periférica, como oposta à estimulação da retina central que é o que acontece quando se tem uma atividade focada no perto”.

Por outro lado, a estimulação visual pela tecnologia também interfere, completa Fernando Vaz: “O uso de tablets, de telemóveis, de computadores faz com que haja cada vez mais pessoas com miopia”. E essa miopia, que “estabilizava aos vinte e poucos anos”, continua a evoluir, pelo que “é cada vez mais comum vermos pessoas com miopias a desenvolver-se em idades mais avançadas”.

 

Sabia que...

Nalguns casos, a miopia também pode ser apenas transitória, quando uma pessoa passa muito tempo ao computador. Miguel Trigo lembra que “não é raro um jovem que trabalhou muitas horas ao computador durante o seu dia de trabalho, sair do escritório, olhar para longe e achar que está tudo um pouco desfocado, quando pode não ter uma miopia real”.

 

Que opções de tratamento existem para os erros refrativos?

“Até à estabilidade da miopia, que normalmente acontece entre os 18 e 25 anos, as soluções para corrigir os erros refrativos passam pelos óculos e pelas lentes de contato”, afirma Fernando Vaz. O oftalmologista CUF explica ainda que “hoje em dia há óculos que têm um desenho especial, que fazem com que esse estímulo para a progressão da miopia seja atrasado”, sendo importantes enquanto outros tratamentos não podem ser feitos. Depois, “a partir do momento em que a miopia está estabilizada, podemos recorrer a tratamentos cirúrgicos, o mais comum deles é o LASIK”, e também as “cirurgias com implante de lentes intraoculares, para redução de miopias mais altas”.

Quando as pessoas “desejam libertar-se dos óculos, normalmente o primeiro passo é o uso das lentes de contacto”, refere Miguel Trigo, mas “muitas pessoas, por intolerância às lentes de contacto ou por procurarem mesmo a independência desses meios, procuram a cirurgia refrativa”, sendo a técnica a laser LASIK uma boa opção.

 

O que é a cirurgia LASIK?

A intervenção LASIK “é uma cirurgia em que se corrige a miopia na córnea, a parte mais anterior do olho, alterando a curvatura e a estrutura da córnea”, refere Fernando Vaz. O oftalmologista lembra que “no passado havia um corte que era feito no olho com um microquerótomo”, mas atualmente “o laser Femtosegundo substitui esse corte”. São usados dois lasers, “um primeiro laser prepara o olho, criando uma interface que vai receber o segundo laser, Excimer, que vai então polir a córnea”.

Miguel Trigo explica que “o tecido da córnea é levantado e o laser que vai corrigir a curvatura é aplicado mais profundamente no tecido, sendo tudo tapado com o tecido original”. Desta forma, “o tecido original está íntegro e a única cicatriz que fica depois do procedimento é uma linha em 270 graus no contorno desse retalho”. O procedimento é muito rápido, menos de meia hora, “em que o cirurgião está acompanhado por um técnico enfermeiro e basicamente o médico cirurgião utiliza pedais e joysticks e toma decisões”, assegura Fernando Vaz.

 

Quais as vantagens do LASIK?

O oftalmologista Miguel Trigo afirma que o LASIK tem cerca de 30 anos e “é provavelmente das cirurgias mais bem-sucedidas na história da ciência médica, porque é das poucas cirurgias que conseguem substituir o que se perdeu, ou o que não se tem, com a mesma qualidade”. Relativamente ao PRK, uma técnica também a laser, o LASIK permitiu realizar “uma cirurgia igualmente eficaz, mas expandiu a capacidade de tratar doentes, seja porque podemos tratar de graduações maiores, seja porque há muito mais pessoas interessadas, porque sabem que não vão ter dor e que vão recuperar mais depressa”.

Fernando Vaz destaca que “a cirurgia é segura e rápida”, em que a pessoa “não é operada para ter mais saúde, é operada porque quer ter mais qualidade de vida, e só por si isso implica que seja segura”. Por outro lado, “nas situações em que o LASIK está contraindicado, podemos recorrer às lentes fáquicas”, explica o oftalmologista CUF.

 

Quais os riscos da cirurgia ocular LASIK?

“Não há uma cirurgia sem riscos”, salienta Miguel Trigo. Contudo, sendo a cirurgia ocular LASIK feita em pessoas saudáveis, “todos os esforços, quer no desenvolvimento das técnicas e dos equipamentos, quer em tudo o que rodeia a cirurgia, é anti-risco”, desde “coisas tão básicas como a confirmação da identidade das pessoas e do olho que vai ser operado, até ao pós-operatório, com “riscos que vão diminuindo com o tempo”, relacionados também com os próprios cuidados da pessoa, acrescenta.

Fernando Vaz reflete sobre as possíveis complicações, referindo que, com o laser de Femtosegundo, “é quase impossível suceder o que também raramente acontecia antes, que era um corte incompleto”. O que pode surgir no pós-operatório, “e nem é uma complicação, é o olho seco, que é mitigado com um colírio lubrificante, e que ao fim de dois, três meses, deixa de ser necessário usar”. Caso permaneça um “erro refrativo residual”, por exemplo passar de cinco dioptrias para uma dioptria ou meia, é necessário “voltar a fazer laser três meses depois”. Mas no final a pessoa fica bem, garante o oftalmologista.

Pessoa retira lentes de contacto da caixa.

 

Como é a recuperação e o que deve ser feito?

“No pós-operatório, a recuperação da visão é muito rápida. A pessoa quando é operada, ainda não fica logo a ver bem”, mas já nota grandes melhorias ”, explica Fernando Vaz. Após a anestesia (gotas), são sentidas algumas picadas fortes, mas “quatro horas depois, embora não tenha ainda a visão final, o paciente já vai ser capaz de ver televisão, seria capaz de conduzir se fosse necessário. E no dia seguinte, em termos visuais, está apto a fazer todas as atividades profissionais ou de lazer”.

Não pode, no entanto, “mergulhar numa piscina ou na água do mar durante quatro semanas”, alerta o oftalmologista, e “pelo mesmo período deve evitar desportos em que haja risco de contacto físico”. Deve ainda “evitar a exposição a poeiras e fumos, porque são irritantes, e também não pode coçar os olhos”.

Além da medicação com antibióticos e anti-inflamatórios, e da aplicação de lubrificantes, as pessoas devem usar “uns escudos, umas conchas de protetores oculares para as primeiras noites”. Essas proteções são fornecidas no hospital e permitem que “no sono a cabeça possa ficar apoiada na almofada, mas evitando qualquer traumatismo inadvertido do próprio”, completa Miguel Trigo.

 

Quem pode ou não pode fazer uma cirurgia LASIK?

Fernando Vaz destaca que “a seleção de pacientes para o LASIK é um ponto crucial, é a parte mais importante da cirurgia”. Assim, é fundamental “despistarmos as pessoas que não devem ser operadas, pois nem todas as pessoas que querem ser operadas à miopia o podem ser”. Para isso, o processo começa por “uma tomografia da córnea, que vai detetar pequenas fragilidades na córnea que possam contraindicar a cirurgia”, nomeadamente ”ter uma doença chamada queratocone”, e “ter a córnea mais fina”.

“A cirurgia refrativa foi desenhada para olhos sem doenças”, reforça Miguel Trigo, acrescentando que há “exceções em algumas doenças, sejam doenças gerais da pessoa, sejam doenças específicas do olho”, mas passa sempre por um processo de exclusão de contraindicações. Uma pessoa que “tenha apenas miopia, astigmatismo ou hipermetropia, deve passar por uma bateria de exames que vão, por um lado assegurar exatamente isso, que não existe nenhum problema de saúde do olho, e também medem uma série de variáveis para programar a cirurgia, nomeadamente, espaços, espessuras, curvaturas”, explica o oftalmologista.

Além da córnea fina ou irregular, Miguel Trigo detalha que as contraindicações para a cirurgia passam por:

  • Ter demasiadas dioptrias;
  • Ter sofrido uma infeção no olho como herpes - que poderá surgir no pós-operatório e trazer consequências graves;
  • Ter doenças crónicas inflamatórias ou autoimunes;
  • Ter olho seco grave.

 

Neste último caso, “temos que avaliar clinicamente qual é o impacto real biológico na superfície do olho”, e depois “dosear os lubrificantes, recuperar a superfície do olho, tratar os problemas das pálpebras e fazer um período de abstenção de lentes de contacto suficiente (pelo menos uma semana) para recuperar a superfície do olho”.

 

Qual o prognóstico após o LASIK?

Após passar pela cirurgia LASIK, o oftalmologista Fernando Vaz afirma que “o que é expectável é que a acuidade visual para longe permaneça estável, e boa, até ter cataratas depois dos 65 ou 75 anos”. Já quanto à visão ao perto, “é importante que quem é submetido a esta cirurgia saiba que é expectável que a partir dos 45 anos, pode ser 46 ou 47, poderá necessitar de óculos para ver ao perto”.

Para Miguel Trigo, “a cirurgia refrativa só faz sentido se os resultados forem permanentes” na resolução do problema que está a ser tratado, sendo essa uma das razões para haver “algumas limitações em certas pessoas”. Por outro lado, a contraindicação pode ser apenas temporária, relacionada com a idade, lembra o oftalmologista CUF: “Muitas vezes, somos procurados por pessoas que desejam ser operadas e que têm uma idade em que a biologia ainda não chegou ao ponto final do crescimento e do desenvolvimento da graduação. Devem ser identificadas e acompanhadas ao longo do tempo, de modo a estabelecer o ponto em que a graduação está estável”.

 

O que fazer em caso de receio da cirurgia?

Os oftalmologistas CUF acreditam que, caso tenham algum receio, as pessoas devem continuar a usar os óculos ou as lentes de contacto, pois são eficazes. “O conselho que eu dou às pessoas que têm receio é que vão para casa pensar”, refere Miguel Trigo. Acredita que “o papel do oftalmologista é informar as pessoas, explicar com o que podem contar, com dados concretos”. Depois “as pessoas constroem esse pensamento com base nos exemplos dos amigos, familiares, outras pessoas e é assim que o processo de decisão deve ser feito, ponderado e bem informado”.

“Quando o seu desejo de se libertar dos óculos prevalecer sobre o receio, deve consultar o seu médico, que lhe dirá se é seguro ou não ser operado”, afirma Fernando Vaz. Lembra ainda que “tem havido grandes evoluções e os softwares dos lasers hoje são muito melhores do que eram há 30 anos”. E tão importante como isso é a evolução na avaliação pré-operatória, que permite confirmar quem pode beneficiar da cirurgia: “Nós hoje conseguimos esclarecer dúvidas que não conseguimos esclarecer no passado”.

Publicado a 05/06/2024