Primeiros socorros em crianças:

saiba o que fazer numa emergência
Bebés e crianças
10 mins leitura

De cortes a quedas, os primeiros socorros são essenciais para impedir danos maiores e devemos ter especial cuidado com crianças. Veja como atuar.

Ninguém está livre de uma pancada, de uma queimadura ou de uma indisposição repentina. Seja no verão porque está calor e andamos mais na rua, ou no inverno porque chove e podemos escorregar, devemos estar preparados para resolver os pequenos acidentes do dia a dia, e para minimizar os efeitos quando a situação é mais grave e pode até levar à necessidade de cuidados médicos. 

Isso ganha ainda maior importância no caso das crianças que, tanto pela menor atenção e equilíbrio como pelo desenvolvimento incompleto do corpo e do organismo interno, precisam de cuidado redobrado. No caso de primeiros socorros é fundamental saber como agir e em que situações as orientações para crianças diferem das dos adultos.

É normal que a aflição sobre o estado de uma criança seja maior, pelo que muitas vezes o primeiro impulso é chamar uma ambulância ou dirigir-se rapidamente para o hospital. Nem sempre é necessário procurar cuidados médicos, ou pode até ser grave transportar a criança, sendo mais adequado dar uma resposta imediata no local. Descubra quando deve chamar os serviços de emergência e quando seguir para o hospital, mas saiba também o que pode fazer para tratar os pequenos acidentes ou para estabilizar uma criança numa situação mais grave.



Quando devemos contactar o serviço de emergência?

Se uma criança fica inconsciente e não responde a estímulos, deve ser feita imediatamente uma chamada para o 112. Além de servir para chamar uma ambulância, esse contacto permite receber outras orientações, que são igualmente necessárias para outros casos, até à chegada de paramédicos. Ligue para o 112 se uma criança:

  • Não está a acordar do sono ou da sesta;
  • Deixa de respirar ou está com dificuldade em respirar;
  • Fica inconsciente ou alheada do que acontece à volta;
  • Tem um corte cuja hemorragia não estanca;
  • Teve uma convulsão pela primeira vez, mesmo que recupere logo a seguir;
  • Engoliu alguma coisa e está a sufocar;
  • Teve uma queda ou acidente que pode ter afetado a coluna.

 

Quando levar a criança ao hospital?

Há emergências em que, pela gravidade da situação, ou porque a mobilidade não está afetada nem há risco de outros efeitos negativos, a deslocação com a criança a um serviço de atendimento permanente pelos próprios meios pode ser o mais adequado:

  • Tem um braço ou perna partida ou uma lesão que dificulta o movimento;
  • Engoliu algum produto químico ou medicamentos;
  • Foi mordida por um animal potencialmente venenoso, como uma cobra ou inseto;
  • Tem um objeto preso no nariz ou nos ouvidos;
  • Teve uma queda ou pancada forte e recuperou (pode ter lesões internas);
  • Tem um corte profundo com o sangue estancado, mas a precisar de sutura.

 

Sabia que...

Na Europa e nos países mais desenvolvidos, os acidentes e os ferimentos não intencionais são a maior causa de morte entre as crianças.

 

Como fazer os primeiros socorros?

Independentemente do contacto ou não para os serviços de emergência, é necessário começar por avaliar a situação e tomar medidas imediatas para o caso concreto, que podem ou não resolver totalmente o problema. Uma queda ligeira pode ter consequências graves, enquanto que um corte com sangue pode ficar resolvido com um simples penso. Segue-se uma lista dos principais acidentes e as orientações para o que fazer.

 

Cortes

O sangue a sair de uma ferida pode ser assustador, mas raramente a quantidade é preocupante, só em casos de perfuração dos principais vasos sanguíneos. Quando uma criança tem um corte, é importante parar a hemorragia com uma compressa ou pano limpo. Tente usar luvas ou ter as mãos higienizadas e faça pressão diretamente sobre a ferida. Se houver um objeto a perfurar, evite retirá-lo ou pôr a mão por cima, contorne-o com os dedos.

Manter a criança calma também é importante, explicar-lhe que uma pequena perda de sangue não é grave. Demora alguns minutos a estancar o sangue, mas levantar o braço ou perna afetada ajuda. Se a compressa ficar ensopada, não a tire, para não aumentar a hemorragia, coloque outra por cima e continue a pressionar. No final, caso o corte seja grande ou tenha ainda vidros ou outros objetos, leve a criança a um serviço de urgência ou de atendimento permanente.

 

Queimaduras

As lesões de queimaduras podem surgir de calor, frio, descargas elétricas ou substâncias químicas. Independentemente da gravidade, o primeiro passo - após o afastamento da criança do local ou da substância causadora - é arrefecer a zona da queimadura com água fria, de preferência corrente, durante vários minutos. Retire também a roupa e adereços em torno da queimadura, mesmo fraldas ou roupa interior, mas não tente puxar tecidos que pareçam estar colados na zona.

Cubra a queimadura com compressas húmidas ou tecidos finos, usando água ou soro fisiológico para molhar. Em caso de queimadura com flictena - bolha - não a rebente. Para proteger a flictena, pode colocar colocar um creme antiqueimadura e um penso por cima. Não coloque apenas um penso seco para não colar à flictena.

É importante avaliar se precisa de levar a criança a um serviço de atendimento permanente ou se basta pedir aconselhamento médico para o curativo.

No caso de queimaduras de frio, em que a pele fica esbranquiçada, com formigueiro e mais rígida, é importante subir a temperatura gradualmente. Coloque a criança num local mais quente e molhe as mãos ou os pés em água morna. Usar o seu calor corporal também resulta, mas não massaje a zona, pois pode causar outros danos.

 

Ossos partidos

Em caso de queda ou acidente, o trauma nos ossos leva a diferentes formas de atuar. Uma pancada na cabeça, mesmo que pareça estar tudo bem, pode originar danos mais tarde, principalmente se houver tonturas ou lapsos de memória. Deve levar-se a criança ao médico para fazer um despiste dessas sequelas.

Já os braços e as pernas partidas, bastante frequentes nas crianças, obrigam a tratamento médico urgente, mas desde que a mobilidade seja possível com dor controlada, podem ser transportados para o hospital. Uma ligadura pendurada do pescoço ajuda a segurar o braço em ângulo. A perna, o joelho ou a bacia podem ser apoiados com toalhas e outras roupas. Normalmente, a comparação entre zonas simétricas do corpo, como os antebraços ou os joelhos, ajuda a perceber melhor a lesão em causa.

Quando o acidente é maior - como um embate automóvel ou uma queda que provocou impacto de todo o corpo - a criança não deve ser mexida até chegarem os serviços de emergência, para que o seu pescoço e coluna possam ser estabilizados, evitando o risco de paralisia. Se for mesmo necessário mover a criança, deve fazer-se com todo o cuidado, sem movimentos bruscos e com roupa ou cobertores que ajudem a dar suporte.

 

Objetos estranhos

Nunca é demais o alerta e o cuidado com as crianças na presença de peças pequenas de jogo e outros objetos de dimensões reduzidas. Uma simples moeda de alguns cêntimos ou uma missanga pode ser muito perigosa na garganta ou no sistema respiratório das crianças.

 

1. Nariz e orelhas

Caso uma criança tenha algo preso no nariz ou nas orelhas, não insista nas tentativas se for difícil retirá-lo, pois pode empurrá-lo e agravar o problema. Dirija-se com ela a um serviço de urgência, ajudando a respirar pela boca se for preciso.

 

2. Boca

Caso a criança tenha engolido facilmente um objeto, mas que possa ser potencialmente perigoso, como uma pilha ou uma peça com ângulos perfurantes, leve-a de imediato ao hospital também.

No caso de engasgamento, a situação é mais urgente e passa por levar a criança a expelir o objeto estranho o mais rapidamente possível. Se a vítima conseguir tossir, pode ser o suficiente para desbloquear a situação, pelo que deve encorajar a tosse.

Caso isso não resulte, deve executar a manobra de Heimlich, cuja técnica depende da idade da criança:

  • Coloque-se de lado e ligeiramente atrás;
  • Apoie o tórax da criança, ligeiramente inclinado, com um dos seus braços;
  • Dê as pancadas entre as omoplatas, com a base da sua mão livre.

 

Na criança mais velha, experimente cinco compressões abdominais:

  • Coloque-se atrás da criança, com os seus braços no abdómen desta;
  • Feche um punho em cima do umbigo;
  • Ponha a outra mão por cima e faça a compressão para dentro e para cima.

 

Em crianças mais pequenas, até 1 ano, as pancadas podem ser dadas com o corpo suspenso e apoiado no antebraço, e a cabeça inclinada para baixo. Já as compressões são feitas apenas com dois dedos, na zona do tórax, verificando a boca a cada vez para tentar ver o objeto.

Em geral, repita o processo cinco vezes, alternando as pancadas com as compressões, e ligue para os serviços de emergência se não resultar ou se a vítima ficar inconsciente. Por outro lado, após a desobstrução, a criança deve ser encaminhada para o hospital para avaliar outras lesões.

 

Como fazer reanimação em crianças?

O Suporte Básico de Vida é uma técnica cujo conhecimento é importante em todas as pessoas, mas que requer algum treino, nomeadamente com formações simuladas, para aumentar a facilidade com que é realizada por quem não é profissional de saúde. É feita quando se encontra uma pessoa inconsciente e sem respirar, ou se vê isso acontecer a alguém.

Com a vítima de costas, colocam-se as mãos sobrepostas e entrelaçadas sobre o peito desta, e são feitas 30 compressões rápidas, menos de um segundo cada. No final faz-se duas ventilações na boca, com o nariz da vítima tapado, para garantir que o ar enche bem os seus pulmões.

No caso das crianças, a manobra de reanimação é semelhante, mas mais suave, devido ao risco de danos nos ossos e outros órgãos, devido à idade e desenvolvimento físico incompleto:

  • São feitas primeiro as ventilações, cinco, mas apenas com o ar necessário para expandir os pulmões e o tórax da criança;
  • Em seguida, as compressões são adaptadas ao tamanho da criança: dois dedos num bebé até 1 ano; uma mão numa criança até 8 anos. Isto tentando empurrar para baixo apenas um terço da altura do tórax.

Tanto nas crianças como nos adultos estas manobras são repetidas e alternadas até à reanimação ou até chegarem os meios de emergência especializados.

 

O que fazer numa chamada de emergência?

Caso sinta necessidade de ligar para os serviços de emergência, como o 112, há alguns passos que deve seguir para garantir um tratamento rápido e mais eficaz, possivelmente um apoio remoto para ultrapassar a situação:

  • Dê a localização exata, de forma clara e com pontos de referência, se possível;
  • Indique o número de telefone;
  • Refira a razão da chamada (acidente, doença);
  • Diga quantas vítimas são, o sexo e a idade aproximada;
  • Descreva a situação e alterações que vão surgindo;
  • Cumpra todas as orientações que forem dadas;
  • Não desligue a chamada até lhe dizerem que o pode ou deve fazer.

 

O que deve ter num kit de primeiros socorros?

Para as situações acima descritas que não chegam a necessitar de acompanhamento médico imediato, como pequenas feridas, ou para as quais há orientações específicas de tratamento, é sempre bom ter um kit de primeiros socorros em casa. Vá garantindo que nada está a faltar para que não seja surpreendido com poucas compressas ou água oxigenada, e verifique também a validade dos produtos, nomeadamente medicamentos. E não se esqueça de ter o adequado para adultos e crianças.

Alguns itens que deve incluir no seu kit de primeiros socorros são:

  • Pensos de vários tamanhos, gaze e ligaduras;
  • Toalhitas antisséticas;
  • Álcool 70 º ou soluções antisséticas iodadas (por exemplo, Betadine®) e soro fisiológico;
  • Luvas de látex;
  • Tesoura e pinça;
  • Termómetro;
  • Loção ou spray desinfetante;
  • Pomada e cremes para queimaduras ou cicatrização;
  • Medicamentos para febre, dores de cabeça, anti-inflamatórios;
  • Medicamentos para náuseas e laxantes;
  • Repelente de insetos e pomada para picadas;
  • Faixas ou bolsas térmicas de frio ou calor.
Fontes:

INEM, julho de 2023

NHS, julho de 2023

WebMD, julho de 2023

Publicado a 03/06/2024
Doenças