Diverticulite e alimentação: que cuidados ter?
A partir dos 40 anos muitas pessoas desenvolvem divertículos no cólon. O tipo de alimentação pode ajudar a prevenir inflamações dos divertículos. Saiba como.
Com o passar dos anos a maior parte do organismo humano vai sofrendo alterações, consequência do estilo de vida e do próprio envelhecimento natural. Nos intestinos, é comum, sobretudo no cólon sigmoide, desenvolverem-se pequenas bolsas ou sacos na parede intestinal, chamados divertículos. Surgem normalmente em zonas do cólon sujeitas a maior pressão ou com uma parede mais frágil.
A diverticulose, ou doença diverticular, assim se chama o aparecimento dessas bolsas, começa normalmente a partir dos 40 anos, com maior incidência nos países ocidentais, estando esse facto relacionado com o tipo de alimentação. Aos 60 anos, metade da população ocidental apresenta diverticulose, e a quase totalidade das pessoas acima dos 80 anos apresenta divertículos. Ter diverticulose não é um problema por si só, mas uma parte dessas pessoas poderão sofrer de diverticulite, que pode ser leve ou moderada a grave. Requer tratamento, alterações na dieta e em alguns casos cirurgia.
O que é a diverticulite?
A diverticulite é a inflamação dos divertículos, que provoca dor abdominal e problemas gastrointestinais, podendo surgir isoladamente ou acompanhada de uma infeção devido a bactérias do intestino. Está relacionada essencialmente com o sedentarismo, a obesidade, o consumo de tabaco e uma alimentação pouco cuidada. O risco de inflamação dos divertículos também aumenta no caso de problemas crónicos de obstipação e de utilização recorrente de medicamentos anti-inflamatórios, paracetamol, corticoides e opioides.
Além de dor na zona inferior do abdómen e de diarreia ou prisão de ventre, a diverticulite pode ter como sintomas febre, náuseas e vómitos, inchaço abdominal e sangue ou muco nas fezes. Em casos mais graves, pode evoluir para fístulas, abcessos, peritonite (infeção resultante da rutura do divertículo) e estenose (estreitamento do cólon).
Como é que a alimentação influencia a diverticulite?
Manter hábitos muito sedentários e uma alimentação pouco cuidada, com muita carne vermelha e poucas fibras, é um dos grandes potenciadores do desenvolvimento de diverticulose, aumentando também o risco posterior de diverticulite.
A falta de fibras é a maior causa alimentar para a diverticulite, e muitos frutos secos ricos em fibras ou parte integrante de outros alimentos com essa característica, como granolas e mueslis, podem ser benéficos.
Como usar a alimentação para prevenir a diverticulite?
Quer após o diagnóstico de diverticulose ou se procure prevenir essa condição, as fibras são o principal nutriente para ajudar a manter os intestinos a funcionar bem. Uma dieta rica em fibras, e com muitos líquidos, torna as fezes mais moldadas, moles e fáceis de expelir. As fezes duras, em pequenas quantidades, podem alojar-se nos divertículos e provocar a inflamação, e as duras aumentam o risco de obstipação, que também causa pressão no intestino. Além disso, as fibras previnem o desenvolvimento de novos divertículos no cólon.
Alimentos ricos em fibra:
- Pão integral;
- Cereais, massa e arroz integrais;
- Feijão-verde, espinafres, batata-doce, couves, cebolas ou brócolos;
- Leguminosas como feijão, grão, lentilhas e ervilhas;
- Fruta: maçãs, peras, ameixas, manga, bananas, figos, frutos vermelhos ou ananás;
- Bolachas, barritas e tostas ricas em fibra e contendo frutos secos;
- Produtos de carne ou peixe que contenham pão ralado;
- Laticínios com cereais ou frutos ricos em fibra;
- Frutos secos, manteiga de amendoim, picles de legumes.
A par da alimentação, é importante fazer exercício físico e manter posições de trabalho sentado confortáveis, beber muitos líquidos ao longo do dia, manter um peso saudável e regular, deixar de fumar e de consumir álcool ou refrigerantes.
O que fazer numa crise de diverticulite?
A diverticulite é normalmente identificada pelos sintomas, mas pode ser necessário fazer análises e exames - como uma tomografia ou uma ressonância magnética - para excluir outras doenças do aparelho gastrointestinal, como síndrome do intestino irritável, apendicite ou abcesso, tumores ginecológicos e cancro no cólon. O tratamento e recomendações a seguir dependem também do diagnóstico correto e da gravidade da situação.
Uma diverticulite ligeira requer principalmente repouso, medicamentos para combater a inflamação, frequentemente antibióticos, e uma dieta saudável. No caso de uma diverticulite grave, mesmo que não seja necessário uma cirurgia - uma situação limite, para drenar um abcesso ou retirar parte do intestino afetada por rutura dos divertículos ou por uma fístula -, é necessário uma dieta mais cuidada. E nestes casos as restrições abrangem igualmente os alimentos com fibra, que deverão ser introduzidos gradualmente assim que o episódio passar.
Alimentos com menos fibra:
- Caldos leves, sumos de fruta sem polpa, água, chá, gelatinas e sorvetes (no início);
- Pão branco e produtos de pastelaria sem ingredientes integrais;
- Arroz branco e massa convencional;
- Cereais simples de arroz ou milho, e bolachas Maria ou equivalentes;
- Carne, peixe e ovos, sem utilização de pão ralado ou massa folhada integral;
- Todo o tipo de leite, queijo e natas, e iogurtes sem cereais ou pedaços de fruta;
- Fruta variada sem a casca, sementes ou caroços;
- Espargos, aipo, alho-francês, alface, batatas, beterrabas e cenouras;
- Beringela, pepino, curgete, cogumelos, pimentos, tomate;
- Pudins, mel, compotas sem sementes, bebidas com cacau ou bebidas açucaradas.
Quando consultar o médico?
A diverticulose é crónica e, sendo a diverticulite uma situação episódica, os doentes devem estar informados sobre os passos a seguir quando surge uma crise inflamatória. É importante consultar o médico assistente caso surjam novos sintomas ou sejam moderados ou severos, pois pode ser necessário um tratamento com hospitalização.
Consulte um médico caso a dor não melhore ou esteja a piorar, se está com febre, ou se tem dificuldade em alimentar-se, mesmo com líquidos apenas. Dirija-se a um serviço de Atendimento Permanente em caso de aumento repentino do volume abdominal, dores muito fortes e vómitos, prisão de ventre prolongada, hemorragia pelo ânus, febre alta, palidez e confusão mental ou discurso incoerente.
Cleveland Clinic, março de 2024
Mayo Clinic, março de 2024
Manual MSD, março de 2024
National Institute of Diabetes and Digestive and Kidney Diseases, National Institutes of Health, março de 2024
NHS, março de 2024
Cambridge University Hospitals, NHS, março de 2024