Lipedema e linfedema: quais as diferenças?

Doenças crónicas
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São doenças crónicas por vezes confundidas, mas diferentes. No lipedema há acumulação anormal de gordura, no linfedema há alterações do sistema linfático.

O aumento do volume e inchaço nas pernas, nas ancas ou nos braços está frequentemente associado a obesidade, sendo comum nas pessoas com índice de massa corporal elevado.

No entanto, existem outras duas condições crónicas que causam aumento do volume corporal e que em casos graves podem afetar severamente a mobilidade e a qualidade de vida das pessoas: o lipedema e o linfedema.

 

O que são o lipedema e o linfedema?

Ambas as doenças são caracterizadas pelo edema (inchaço) ou aumento do volume numa ou várias partes do corpo, mas com características e sintomas diferentes:

 

Lipedema

Acumulação crónica, progressiva e simétrica de gordura, quase sempre em mulheres, principalmente nas pernas, mas também nas ancas e nos braços. Existem cinco tipos de lipedema, que identificam as zonas do corpo atingidas, por vezes, combinados. A progressão da doença é feita em três estágios, que variam desde o ligeiro inchaço da pele devido à acumulação subcutânea até à presença de grandes massas de gordura e pele descaída. No último estágio, o lipedema afeta a qualidade de vida dos doentes.

 

Sabia que…

O lipedema (ou lipoedema) foi reconhecido na Classificação Internacional de Doenças da Organização Mundial da Saúde apenas em 2019 (CID-11). O linfedema integrou essa classificação já em 1990 (CID-10).

 

Linfedema

Acumulação de líquido linfático devido a bloqueio nos vasos que transportam a linfa passando pelos gânglios. Esse fluido contém substâncias nocivas que são filtradas pelos gânglios. Acontece principalmente nas pernas, mas pode manifestar-se noutras zonas do corpo, normalmente num dos lados apenas. Numa fase inicial, o inchaço poderá aumentar ou diminuir, piorando ao longo do dia, por exemplo. O linfedema é uma doença crónica com várias causas, incluindo genéticas, cuja progressão pode afetar a mobilidade da zona afetada, provocar alterações na pele e causar infeções ou ser agravado por estas. Pode acontecer em qualquer altura da vida, tanto a homens como a mulheres.

 

Quais as características do lipedema e do linfedema?

O lipedema acontece mais a mulheres e manifesta-se de forma simétrica no corpo, o linfedema tem mais causas possíveis, mas ambos podem afetar bastante a vida dos doentes. As pessoas com lipedema apresentam maior risco para linfedema.

Tabela que indica as características do lipedema e do linfedema
Características Lipedema Linfedema
Causa Primária, genética Primária ou secundária, várias causas para o bloqueio linfático
Idade de início Puberdade, agravamento após os 35 anos Qualquer idade
Género Mulheres, quase exclusivamente Homens e Mulheres
Consistência da pele Firme Macia
Cor da pele Normal, por vezes com manchas Escura, com verrugas ou esclerodermia
Abrangência Bilateral, principalmente nas pernas Unilateral, por vezes
Pode surgir nos pés e nas mãos? Normalmente, não Sim
Pele mais sensível a feridas Sim Não
 

O que causa o lipedema?

Uma das causas para o lipedema poderá ser genética, pois em grande parte dos casos existe historial familiar da doença. Uma vez que está quase exclusivamente associado a mulheres, a origem pode estar relacionada com alterações hormonais. Normalmente, começa a manifestar-se na puberdade, agravando-se na idade adulta, particularmente em contexto de gravidez, menopausa ou uso de medicamentos, como contracetivos orais. O lipedema caracteriza-se por nódulos ou bolsas de gordura e não numa camada adiposa contínua como na obesidade.

 

O que causa o linfedema?

Existem dois tipos de linfedema, primário e secundário. O linfedema primário representa apenas cerca de 5 % dos casos e está relacionado com defeitos nos genes, que afetam o desenvolvimento do sistema linfático. Ocorre principalmente na infância, adolescência e início da idade adulta. Já o secundário, caracterizado por bloqueio localizado dos vasos linfáticos, pode ter como origem várias causas físicas ou médicas:

  • Cancro, principalmente pela pressão causada pelo crescimento do tumor;
  • Tratamento contra o cancro, nomeadamente radioterapia;
  • Cirurgia com remoção de tecido, que pode incluir gânglios linfáticos (caso do cancro da mama);
  • Infeção parasitária, uma causa comum em países tropicais;
  • Inflamação ou imobilização de um membro;
  • Lesão ou trauma que afeta os gânglios linfáticos.

 

Quais os sintomas destas doenças?

Tanto o lipedema como o linfedema são doenças de progressão e severidade dos sintomas gradual.

 

Sintomas de lipedema:

  • Acumulação de gordura nas pernas ou nos braços;
  • Pele que passa de suave a irregular;
  • Sensação de massas debaixo da pele;
  • Dor leve a severa, constante ou após pressão na pele;
  • Sensação de peso nas pernas;
  • Inchaço na pele;
  • Fadiga;
  • Pele que fica dorida facilmente.

 

O lipedema passa por três estágios, com a progressão a variar de pessoa para pessoa. No último, a grande acumulação de gordura afeta largamente a mobilidade e o dia a dia e deixa a pele mais sujeita a infeções. Nesse caso, os sintomas podem evoluir para pele avermelhada, inchada e quente, acompanhados de febre, sendo importante procurar cuidados médicos.

 

Sintomas de linfedema:

  • Inchaço numa perna ou braço, em parte ou na totalidade;
  • Presença de inchaço nas mãos ou pés;
  • Dificuldade de movimentos no membro afetado;
  • Infeções da pele;
  • Pele mais dura (hiperqueratose) e espessa;
  • Escurecimento da pele;
  • Aparecimento de verrugas ou papilomas.

 

Tal como no lipedema, o linfedema deixa a pessoa em risco de infeções iniciadas no membro ou parte dele afetada, devendo estar particularmente atenta a isso. Nalguns casos, como a reação a um tratamento do cancro, os sintomas podem surgir meses depois de terminar o respetivo tratamento.

 

Qual o tratamento para lipedema?

Além do diagnóstico ser multidisciplinar, também o tratamento do lipedema integra uma equipa de médicos que inclui dermatologista, cirurgião vascular e cirurgião plástico, no caso de ser aconselhável uma lipoaspiração.

O tratamento começa normalmente pelo uso de meias ou ligaduras de compressão para impedir a progressão do problema, reduzir a dor e facilitar a mobilidade. São usados cremes hidratantes e medicamentos para combater infeções e o inchaço do corpo, sendo também recomendadas por vezes massagens. Paralelamente, e da maior importância, a contenção do lipedema inclui o exercício físico adequado e uma alimentação saudável para controlar o peso e melhorar a saúde cardiovascular, pelo que a consulta de nutrição é fundamental.

As técnicas de lipoaspiração podem ser consideradas em casos de acumulação de gordura localizada, sendo por vezes necessário fazer mais do que uma intervenção para ter melhores resultados.

 

Qual o tratamento para o linfedema?

Os tratamentos principais para o linfedema são semelhantes aos do lipedema e, por vezes, necessários nessa doença, quando o aumento de gordura também afeta os vasos e gânglios linfáticos. O exercício físico, nomeadamente a contração muscular junto do inchaço, estimula a circulação linfática, tal como o uso de meias, ligaduras ou roupas de compressão.

O cuidado com a pele é igualmente necessário, além da medicação contra infeções. A drenagem linfática é outro tratamento importante para fomentar a circulação da linfa pelos gânglios, sendo igualmente possível usar técnicas de compressão pneumática. Existem diferentes técnicas cirúrgicas aplicáveis que dependem da severidade do linfedema ou da zona que está afetada, facilitando a melhor circulação e filtragem da linfa. A cirurgia plástica pode estar indicada quando, por exemplo, se destina a retirar tecido duro e fibroso que se formou ao longo do tempo em zonas localizadas.

 

Saúde mental também é importante

Tanto o lipedema como o linfedema são doenças crónicas que causam um impacto físico visível na pessoa. Não só a imagem pessoal fica afetada como a confusão habitual com obesidade pode levar a que o doente se sinta culpado, particularmente no lipedema, que causa alterações bilaterais. Além do cuidado em ter informação adequada sobre a doença e cumprir os tratamentos ou recomendações, é importante manter um espírito positivo e procurar apoio, tanto familiar como especializado, com psicólogos. Terapia de grupo, seja em encontros ou na participação em fóruns na internet, é outra opção para lidar com o problema.

 

Outros cuidados a ter

Além do tratamento e acompanhamento regular, as pessoas com lipedema ou linfedema devem estar particularmente atentos a infeções. Não só o risco de as contrair é maior, como as consequências podem ser mais rápidas e graves. Já no caso de pessoas com história familiar de lipedema ou com risco identificado de linfedema, a prevenção através de um estilo de vida saudável e controlo do peso é fundamental.

Fontes:

andLINFA, junho de 2024

Cleveland Clinic, junho de 2024

Mayo Clinic, junho de 2024

Manual MSD, junho de 2024

Memorial Sloan Kettering Cancer Center, junho de 2024

National Health Service, junho de 2024

National Library of Medicine, National Center for Biotechnology Information, junho de 2024

Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV) de São Paulo, junho de 2024

Publicado a 17/10/2024