No cancro, faça da nutrição uma aliada
Os tratamentos para o cancro trazem vários efeitos secundários, como as náuseas e vómitos. Adaptar a alimentação é fundamental para se sentir melhor.
“A intervenção do dietista/nutricionista no doente oncológico deve ocorrer numa fase precoce e é fundamental para prevenir a desnutrição”. Quem o afirma é Rita Talhas, dietista, que reforça ainda que “um bom estado nutricional traduz-se em efeitos positivos na função imunitária, na diminuição da taxa de complicações, na eficácia da resposta ao tratamento e no controlo dos sintomas. Assim, é fundamental que o estado nutricional seja monitorizado e otimizado o mais precocemente possível para que haja um aumento da qualidade de vida”.
Com as orientações da dietista, conheça alguns dos efeitos secundários provocados pelos tratamentos oncológicos e como uma nutrição e hábitos alimentares adequados, assim como o recurso a alimentos específicos, podem ser aliados na prevenção e alívio dessas queixas.
Efeitos secundários dos tratamentos do cancro
Os tratamentos oncológicos podem provocar diversos efeitos secundários, que vão desde:
- Anemia
- Náuseas
- Vómitos
- Alteração do odor e do paladar
- Diarreia
- Mucosite
- Estomatite
- Entre outros
Como refere Rita Talhas, entre os efeitos secundários mais comuns dos tratamentos oncológicos encontram-se “a diminuição das células sanguíneas, nomeadamente glóbulos brancos, plaquetas e glóbulos vermelhos (anemia). Esta diminuição pode levar ao aumento de suscetibilidade para infeções. Pode também verificar-se a diminuição do ferro e da vitamina B12.”
Vantagens de uma dieta diversificada e saudável
“A nível geral, e também para evitar défices nutricionais e anemia, deve ser privilegiada uma alimentação variada e saudável baseada nas leis nutricionais da tradicional Dieta Mediterrânica, de modo a manter um peso equilibrado, tal como indicam a Liga Portuguesa Contra o Cancro e a Associação Portuguesa de Dietistas”, refere a dietista.
Intolerância a certos alimentos e alterações de paladar
Um certo estado de mal-estar, com intolerância a determinados odores e alterações de paladar pode acontecer. De acordo com Rita Talhas, “a intolerância a determinados alimentos, até mesmo aos preferidos, é uma das manifestações de falta de apetite (anorexia), podendo levar à perda de peso. O tratamento de radioterapia e/ou quimioterapia pode provocar alterações de paladar, perda de sabor dos alimentos, aversão a certas preparações culinárias, aromas ou temperos.” Nesta situação, como aconselha a dietista, os doentes oncológicos devem:
- Optar por alimentos líquidos e sem cheiro: frutas batidas com leite ou em sumo natural, papas confecionadas com leite frio, gelatina, leite-creme, purés de fruta, compotas, queijo fresco, saladas, ovo cozido, camarões e delícias do mar.
- Procurar alimentar-se com pratos da sua preferência, evitando temperaturas muito quentes ou muito frias.
- A estimulação do apetite pode ser efetuada com pequenas caminhadas antes das principais refeições ou enxaguando-se a boca antes da ingestão dos alimentos.
- As refeições devem ser servidas em ambiente agradável.
Para alívio das náuseas e vómitos
Entre os efeitos secundários dos tratamentos oncológicos encontram-se também as náuseas e os vómitos que, cada vez mais, são controlados por fármacos. No doente que esteja a submeter-se a um tratamento oncológico, “os vómitos podem ocorrer mesmo que esteja com o estômago ‘vazio’. Quando acontecem em excesso podem provocar desidratação”, alerta Rita Talhas. Para evitar/atenuar as náuseas, vómitos e desidratação, a especialista deixa as seguintes recomendações:
- Para atenuar as náuseas, o doente deve fazer uma infusão de gengibre para ir ingerindo ao longo do dia.
- Deve promover-se uma alimentação mais “leve”, que inclua alimentos de mais fácil digestão: torradas, biscoitos secos, compotas, caldos, sopas, purés, bolachas torradas ou Maria, bolacha de água e sal, saladas entre outros, que devem substituir os alimentos que causam repulsa ao doente como, por exemplo, as gorduras.
- É recomendada a diminuição do consumo de alimentos como leite puro, bebidas gaseificadas e alcoólicas, café, chá preto, chocolate, carnes gordas, leguminosas, couves, brócolos, repolho, batata-doce e açúcar.
Mucosite, estomatite e odinofagia
De acordo com a dietista, com o tratamento oncológico pode igualmente “ocorrer inflamação da mucosa que reveste a boca, esófago e intestino, surgindo, assim, a mucosite, a estomatite e a odinofagia. Recomenda-se que o doente evite alimentos picantes, crocantes, duros, ou que possam esfoliar a mucosa, assim como os alimentos ácidos (abacaxi, laranja, limão, tomate, vinagre, ketchup, mostarda, pimenta, etc.), granulados e crus. Também são de evitar os alimentos salgados (pipoca, amendoim, fritos de pacote em geral) e a ingestão de alimentos/preparações em temperaturas muito quentes ou muito frias.”
Em caso de diarreia
Perante este sintoma, o doente deve evitar o consumo de:
- Leite
- Bebidas achocolatadas
- Sumos de frutos ácidos
- Fibras insolúveis (cereais integrais, farinha de trigo integral, centeio, etc.)
- Pães e bolachas integrais
- Bolachas recheadas
- Fritos
- Gorduras em geral
- Fruta com efeito laxante (abacate, ameixa, uva, kiwi, abacaxi)
- Leguminosas
- Verduras e temperos como coentros, tomate e ervas aromáticas em excesso
“Recomenda-se uma ingestão de líquidos superior a 1,5L por dia. Nestes líquidos pode-se incluir água, sumos de fruta, gelatinas e gelados”, salienta Rita Talhas.
Não se esqueça…
O doente oncológico não deve ter medo de experimentar novos alimentos ou alimentos que não costumava comer, pois o seu paladar pode sofrer alterações durante o tratamento.