O que é a Terapia Hormonal de Substituição?

Saúde da mulher
7 mins leitura

Para controlo dos sintomas da menopausa, pode estar indicado tratamento hormonal, de modo a minimizar a diminuição de produção de estrogénio e progesterona.

A Terapia Hormonal de Substituição pode ser incluída no tratamento dos sintomas que alteram a qualidade de vida das mulheres durante a menopausa e consiste na administração de hormonas para substituir aquelas que deixam de ser produzidas (ou são produzidas em menores quantidades).

Durante a menopausa o estrogénio e a progesterona começam a ser produzidos em quantidade cada vez menor pelos ovários. O estrogénio é a hormona responsável pelo funcionamento do aparelho reprodutor feminino e por regular a conceção e gravidez e a absorção de cálcio e os níveis de colesterol, enquanto a progesterona também é responsável pelo funcionamento do aparelho reprodutor feminino, regula o humor e o sono, a pressão arterial e a saúde uterina. A diminuição destas duas hormonas no organismo pode levar a sintomas vasomotores como ondas de calor (conhecidas como afrontamentos), alterações da libido, da lubrificação vulvar e vaginal, insónias, alterações do humor e aumento do risco cardiovascular.

A Terapia Hormonal de Substituição (THS), quando indicada e excluídas contraindicações, melhora a qualidade de vida da mulher, incluindo a redução de massa óssea, controlando a osteoporose.

 

Quais os métodos de administração do tratamento?

Há diferentes tipos de Terapia Hormonal de Substituição e o método certo para cada mulher é escolhido em conjunto com o médico. Quando a substituição hormonal é feita com as duas hormonas diz-se “combinada”.

Há dois tipos gerais de Terapia Hormonal de Substituição (THS), tendo em conta as dosagens:

  • Terapia hormonal sistémica: administrada através de comprimidos por via oral, via transdérmica ou subcutânea ou sprays;
  • Via local ou vaginal: comprimidos vaginais, anéis ou cremes vaginais contêm doses reduzidas de hormonas e destinam-se ao tratamento dos sintomas vaginais e urinários (como a frequente urgência em urinar).

É possível fazer a terapia de substituição hormonal num ciclo em que, em algumas fases, se tomam apenas estrogénios e, em outras, apenas progesterona. Este planeamento feito com o médico especialista pode ser mais adequado para mulheres que já têm sintomas da menopausa, mas continuam menstruadas.

 

Que sintomas da menopausa trata a Terapia Hormonal de Substituição?

É comum que os efeitos positivos se comecem a sentir algumas semanas após o início da administração das hormonas e é possível que o médico aconselhe que a sua paciente mantenha o tratamento por, pelo menos, três meses.

Há sintomas característicos da menopausa que podem ser tratados ou minimizados com a Terapia Hormonal de Substituição (THS), entre eles:

  • Afrontamentos: especialmente as mulheres que têm estas sensações súbitas de calor de forma severa ou moderada e suores durante a noite, podem ter bons resultados com os tratamentos hormonais sistémicos;
  • Sintomas vaginais: o tratamento de reposição de estrogénios tem bons resultados no tratamento da secura vaginal, prurido, urgência urinária, ardor e desconforto durante relações sexuais;
  • Impacto na saúde mental: ao melhorar a qualidade de vida através da amenização dos sintomas como as variações de humor, da libido ou as insónias, a Terapia Hormonal de Substituição tem um impacto benéfico na saúde mental.

 

Além disto, a reposição hormonal pode ser aplicada em situações como:

  • Perda de massa óssea: o tratamento hormonal sistémico previne a osteoporose e alterações dentárias. A redução de estrogénio no organismo origina o enfraquecimento dos ossos e, por consequência, a possibilidade de fraturas - há tratamentos direcionados especificamente à osteoporose;
  • Deficiência hormonal ou menopausa precoce: mulheres que experienciam insuficiência dos ovários, fizeram cirurgia de remoção dos ovários ou deixaram de ter menstruação antes dos 45 anos têm menos estrogénio no organismo em comparação com outras mulheres. Isto expõe estas mulheres a doenças como a osteoporose, doenças cardíacas, enfarte, demência e alterações de humor. A Terapia Hormonal de Substituição pode prevenir estes problemas;
  • Diminui o risco de diabetes e de doença cerebrovascular;
  • Diminui o risco de cancro do cólon.

 

Qualquer mulher pode fazer Terapia Hormonal de Substituição (THS)?

Não. A decisão de fazer Terapia Hormonal de Substituição é da mulher e deve ser tomada na posse de todas as informações e avaliações feitas pelo seu médico.

Há mulheres a quem é desaconselhada a Terapia Hormonal de Substituição, incluindo:

 

Contraindicações absolutas

  • Antecedentes de cancro da mama, do útero ou nos ovários;
  • Antecedentes de coágulos no sangue, como trombose venosa, trombose das veias da retina e embolia pulmonar;
  • Pressão arterial alta não controlada;
  • Acidente vascular cerebral (AVC) e acidente isquémico transitório (AIT), enfarte agudo do miocárdio;
  • Doenças hepáticas;
  • Doenças do sangue como trombofilia;
  • Suspeita de gravidez.

 

Contraindicações relativas

  • Hipoparatiroidismo (risco de hipocalcemia);
  • Diabetes;
  • Porfiria;
  • Existência de um risco alto de doença cardíaca;
  • Insuficiência hepática;
  • Meningioma benigno (contraindicação do uso de progestativo);
  • Risco intermédio ou elevado de carcinoma da mama (exceto em moduladores seletivos do recetor de estrogénio).


    Contraindicações relativas à estrogenioterapia oral
    • Doença da vesícula biliar;
    • Hipertrigliceridemia (> 400 mg/d);
    • Patologia da vesícula biliar;
    • Enxaqueca com aura;
    • Imobilização.

 

Quando pode ser administrada e durante quanto tempo?

A Terapia Hormonal de Substituição (THS) pode ser iniciada com o aparecimento dos primeiros sintomas de menopausa e até aos 60 anos.

A Terapia Hormonal de Substituição é feita, em geral, por alguns anos até ao desaparecimento dos sintomas da menopausa e é mais eficaz nos primeiros dez anos. Dependendo da dose, a terapia hormonal pode ser suspensa subitamente ou gradualmente.

 

Quais os riscos do tratamento hormonal de substituição?

Tal como qualquer outro tratamento, a Terapia Hormonal de Substituição pode ter alguns riscos. No que diz respeito ao uso de estrogénios, em mulheres que entraram recentemente na pós-menopausa, são os eventos tromboembólicos, cujo risco vai aumentando com o avançar da idade, apesar de raros antes dos 60 anos. Também é maior em quem sofre de obesidade ou trombofilia.

No caso do tromboembolismo venoso, o risco é maior em mulheres que fazem terapia hormonal oral. Em mulheres com risco baixo, intermédio e elevado, que estão a fazer terapia hormonal oral, há um aumento do risco de tromboembolismo venoso (isto é TVP, trombose venosa profunda, e embolia pulmonar) para cerca do dobro.

 

Outros riscos associados:

  • Doenças cardíacas: os estudos científicos avaliam os riscos e benefícios para as mulheres que começam a Terapia Hormonal de Substituição nos dez anos seguintes ao último período menstrual. Mantêm-se os riscos para mulheres que iniciam o tratamento tardiamente;
  • Coágulos no sangue;
  • Cancro da mama (com o uso a longo prazo);
  • AVC (um risco maior para mulheres com mais de 60 anos).

 

Estes riscos são menores quando a mulher tem menos de 60 anos e está a fazer o tratamento nos dez anos seguintes à sua última menstruação, segundo o tipo de tratamento hormonal, a dose e o historial clínico da mulher e da família (cancro, osteoporose, coágulos sanguíneos ou doenças cardíacas).

Os medicamentos de aplicação vaginal e transdérmicos com baixas doses de estrogénio reduzem os riscos para a saúde feminina e podem ser, por exemplo, o método de primeira escolha na presença de obesidade.

Além destes riscos, também há sintomas secundários decorrentes da Terapia Hormonal de Substituição (THS) e que podem levar a ponderar outro método de tratamento juntamente com o seu médico. Entre estes efeitos secundários estão:

  • Sangramento vaginal;
  • Enjoos;
  • Dores de cabeça;
  • Dificuldades digestivas.

 

Há alternativas no tratamento dos sintomas da menopausa?

Há algumas alterações no estilo de vida que podem ajudar, por exemplo, a controlar os afrontamentos - nomeadamente, reduzir o consumo de cafeína e álcool, picantes e tabaco, e adotar técnicas de relaxamento.

Nos sintomas vaginais, em particular relativos à dor durante as relações sexuais, cremes hidratantes ou lubrificantes vaginais podem ser importantes.

 

Atenção!

A prescrição e toma de hormonas bioidênticas - sintetizadas em laboratório com percursores de plantas, à semelhança da terapia hormonal convencional - não está recomendada. Isto acontece porque a sua produção não é regulamentada, o que pode levar a variações significativas na sua composição, e a sua eficácia e segurança não estão validadas pela medicina baseada na evidência.

Fontes:

Cleveland Clinic, fevereiro de 2023

Consenso Nacional sobre Menopausa 2021, Sociedade Portuguesa de Ginecologia, março de 2024

Mayo Clinic, fevereiro de 2023

NHS, fevereiro de 2023

Publicado a 22/05/2024