Proteja-se dos cancros ginecológicos mais comuns
Conheça os fatores de risco modificáveis dos cancros ginecológicos mais comuns e saiba o que está ao seu alcance fazer para evitá-los.
O cancro do colo do útero e o cancro do endométrio são os dois cancros ginecológicos mais frequentes em Portugal. É sabido que, como sublinha a Associação Europeia Contra o Cancro do Colo do Útero (ECCA), ter um fator de risco não significa que alguém que o tenha virá a desenvolver a doença, mas apenas que as possibilidades são maiores. Para saber o que pode fazer para reduzir as suas, basta continuar a ler.
1. Cancro do colo do útero
Todos os anos, são diagnosticados cerca de mil novos casos de cancro do colo do útero em Portugal. Na Europa Ocidental, Portugal é o país com a mais elevada taxa de incidência deste tipo de cancro. Afeta a parte inferior e mais estreita do útero, que o liga à vagina, e ocorre com maior frequência a partir dos 40 anos. Tem origem na infeção persistente por um dos 15 tipos de vírus do papiloma humano (HPV) de alto risco. Segundo a ECCA, em consequência da presença do vírus, as células cervicais podem tornar-se anormais e evoluir para cancro.
Sintomas
A infeção é, muitas vezes, assintomática, sendo o rastreio a única forma de detetar células cervicais anormais. A persistência de infeção por vírus HPV de alto risco, em especial o tipo 16 e o 18, pode originar lesões da vulva, vagina ou colo do útero que podem ser denunciadas por:
- Hemorragia vaginal anormal, após as relações sexuais (coitorragias), entre períodos menstruais regulares (metrorragias) ou após a menopausa (metrorragia pós-menopausa)
- Aumento do corrimento vaginal
- Períodos menstruais mais prolongados e intensos do que o habitual (hiper e menorragias)
- Dor na região genital e/ou durante as relações sexuais (dispareunia)
Fatores de risco
Entre as mulheres que têm HPV de alto risco, que é o principal causador deste tipo de cancros do aparelho genital inferior, podem coexistir outros fatores acessórios que facilitam a progressão para lesões malignas como:
- O tabaco, grandes fumadoras
- Doenças ou medicamentos que provoquem uma maior fragilidade do sistema imunitário (por exemplo, a quimioterapia, a infeção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH) ou a toma de medicação inibidora do sistema imunitário, por exemplo corticoides)
Outros fatores de menor importância, como:
- Tomar contracetivos orais (pílula) por mais de cinco anos
- Ter três ou mais filhos (grandes multíparas)
- Ter vários parceiros sexuais (ou ter parceiros sexuais que tenham tido muitos parceiros sexuais)
Como proteger-se
- Faça regularmente o exame de Papanicolau (citologia do colo do útero), a única forma de detetar células cervicais pré-cancerígenas que provocam lesões que podem ser facilmente detetadas e tratadas, evitando a evolução para cancro
- Sempre que existam alterações na citologia deverá, de acordo com o seu médico assistente, fazer uma tipificação para os vírus de alto risco, em especial 16 e 18, e fazer uma colposcopia
- O seu médico assistente, de acordo com a sua idade, fatores de risco e condição específica, pode aconselhá-la quanto à periodicidade com que deve realizar o exame, bem como a altura e as condições ideais
- Limite o número de parceiros sexuais. O HPV transmite-se através do contacto direto com a pele dos genitais, mesmo que não haja penetração, e a infeção é tão frequente que se pensa que a maioria dos adultos terá tido uma infeção ao longo da sua vida, mesmo que não o saiba
- Vacine-se contra o HPV. Em Portugal, a vacina faz parte do Programa Nacional de Vacinação e é recomendada a raparigas entre os 10 e os 13 anos (inclusive), mas pode ser iniciada até aos 18 anos (exclusive) e completada até aos 25 anos (inclusive). Pode vacinar-se até aos 45 anos de idade
- Informe-se junto do seu médico assistente sobre os riscos associados à toma de contracetivos orais (pílula)
2. Cancro do endométrio
Também designado tumor endometrial, tem origem na camada interna de revestimento do útero. As mulheres caucasianas têm maior probabilidade de o desenvolver e, em 75% dos casos, surgem após a menopausa, sobretudo a partir dos 50 anos. A genética desempenha um papel importante no seu desenvolvimento, mas a produção de níveis elevados de estrogénios ou a exposição prolongada a esta hormona podem estar na origem deste tipo de cancro.
Fatores de risco
A terapêutica hormonal de substituição com estrogénios e sem progesterona e o uso de antiestrogénios estão associados a um maior risco.
Se não tem filhos, teve a primeira menstruação precocemente ou uma menopausa tardia, terá um maior risco. Uma vez que os estrogénios são produzidos no tecido adiposo, é mais provável que as mulheres obesas tenham níveis de estrogénios mais elevados, sendo o risco agravado pela diabetes e a tensão arterial elevada. Antecedentes familiares deste tipo de cancro ou ter uma forma hereditária de cancro do cólon e/ou reto ou hiperplasia endometrial (um achado histológico benigno, comum após os 40 anos, em que há um aumento do número de células no endométrio) e ter feito radioterapia na zona pélvica aumenta ligeiramente o risco.
Sintomas
- Pode manifestar-se através de uma hemorragia ou perda vaginal não habitual, que pode começar por ser uma perda sanguínea aguada e, ao longo do tempo, ir ficando mais espessa
- Por uma hemorragia vaginal, depois da menopausa
- Por dor na zona pélvica ou baixo abdómen especialmente ao urinar e/ou durante as relações sexuais
Como proteger-se
- Faça uma alimentação equilibrada e diversificada, limitando a ingestão de gordura, e mantenha um peso saudável
- Faça exercício físico regularmente
- Controle a tensão arterial e a glicemia. Faça exames regularmente e, se tem hipertensão ou diabetes, não descure o acompanhamento médico. Encontrar a combinação certa de medicamentos pode fazer a diferença
- Fale com o seu ginecologista sobre as vantagens e desvantagens das terapêuticas que existem para atenuar os sintomas associados à menopausa
Sabia que...
Os cancros ginecológicos abrangem, além do cancro do colo do útero e do cancro do endométrio, o cancro dos ovários (o mais letal) e o cancro da vulva e da vagina.