Como lidar com o stress da época festiva?

Cérebro e saúde mental
Prevenção e bem-estar
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A época entre o Natal e o Fim do Ano é de festa e alegria, mas pode implicar ansiedade ou stress. Descubra os problemas mais comuns e como os ultrapassar.

Muitas pessoas preparam antecipadamente o Natal, da decoração à comida e presentes, começando a planear a época e a fazer as primeiras compras meses antes. Mas também há quem sofra de stress e ansiedade por esta época estar associada a situações de pressão, desilusão ou tristeza relacionadas com problemas existentes no indivíduo ou na família. Quem sofra de ansiedade, depressão ou outro tipo de transtornos, como a depressão sazonal, algumas semanas ou alguns meses antes, pode sentir um regresso ou um agravamento dos sintomas durante este período de festas.

 

Que tipo de problemas podem surgir na época festiva?

Preocupações com compras, encontros de família, deslocações, refeições, expectativas irrealistas ou questões financeiras são algumas das razões para que a época festiva se transforme em momentos de tensão, desilusão, sofrimento ou solidão. No caso de filhos de pais divorciados e novas famílias, a distribuição de datas pode ser também motivo de stress. Outras situações podem interferir com o estado mental das pessoas, como uma doença, desemprego ou a recordação da morte de um familiar nessa altura.

 

Sabia que...

Algumas pessoas sentem tristeza ou desânimo na época natalícia, mais até do que stress. Chama-se Christmas Blues a esse quadro de sintomas depressivos, que além de afetar a saúde mental pode ter consequências físicas, como fadiga.

 

Quais as consequências para a saúde?

Fadiga, frustração, perda de concentração e momentos de tristeza, que podem ser agravados por situações semelhantes vividas em anos anteriores, são alguns sintomas provocados pelo stress na época festiva. Também é comum sofrer-se de insónias e dores de cabeça.

Muitas vezes, a forma de lidar com essas situações não é a correta. Tratando-se de um período de festa, o excesso de comida ou de bebida são mecanismos usados para combater o stress, aumentando o risco de acidentes, de avolumar do stress e ansiedade, ou mesmo continuação do consumo excessivo e dependência.

 

Como lidar com os momentos de stress no Natal?

Existem diferentes estratégias para limitar a ansiedade natalícia, que dependem essencialmente da sua causa e das suas manifestações. Questões como a preocupação financeira ou a solidão e o luto, por exemplo, motivam formas de atuar distintas. Seguem-se algumas sugestões para lidar com diferentes tipos de stress nesta época.

 

1. Questões financeiras

O dinheiro disponível para presentes, para as refeições de Natal, para as deslocações ou festas é um motivo de stress habitual. Criar um orçamento, fazer compras com antecedência, encomendar online, fazer os próprios presentes ou simplificar as refeições, limitando também o desperdício, são soluções que permitem distribuir as despesas por outros meses e reduzir a pressão em dezembro. Reduzir a decoração, principalmente com luzes, que aumentam os gastos, também ajuda a poupar.

 

2. Tensões familiares

Quando a família se junta, é possível surgirem desentendimentos - afinal de contas, o stress pode afetar toda a gente. Manter as expectativas realistas e evitar conflitos desnecessários é a melhor forma de manter o bom ambiente. É também nestas alturas que é melhor reduzir o consumo de álcool e procurar relaxar, mesmo implicando afastar-se uns minutos. Por outro lado, as reuniões familiares têm tendência para correr melhor quando há atividades planeadas, como jogos, para manter todos distraídos. Se todos os anos o Natal corre mal e há discussões ou familiares que não se dão bem - principalmente se não são familiares diretos -, a alternativa pode passar por dividir as celebrações com o cuidado de evitar deixar alguém de fora.

 

3. Divórcios e separações

O Natal é um dos períodos mais difíceis após um divórcio ou separação, principalmente quando há crianças envolvidas. É fundamental manter a civilidade e combinar atempadamente as datas das crianças com o outro progenitor, e evitar discussões junto dos filhos. Comprar muitos presentes também não é uma forma saudável de mostrar o amor por um filho em caso de divórcio. Se a separação é recente e difícil, encontrar tempo para estar sozinho ou tentar falar abertamente dos sentimentos com a família pode ajudar. A opinião das crianças ou adolescentes deve ser tida em consideração, para que sintam que também têm importância.

 

4. Ausência

Por mais que se tente, há momentos em que é impossível reunir a família toda, o que acontece normalmente pela distância, quando há pessoas que vivem no estrangeiro, mas também por doença ou outro entrave, o que gera momentos de solidão ou tristeza. Manter a comunicação é importante, com a ressalva de que pode ser mais difícil no meio da azáfama e das diferenças horárias, pelo que uma falha ou uma chamada perdida não é motivo de alarme ou stress. Quando há presentes a enviar para longe, o melhor é enviar com antecipação, principalmente no caso de crianças, que os esperam ansiosamente e não conseguem lidar tão bem com um atraso.

 

5. Luto

A perda de um familiar ou amigo próximo perto do Natal gera memórias que podem durar para toda a vida. Mesmo que no resto do ano se consiga esquecer essa perda e divertir normalmente noutras festividades, o sofrimento e a menor vontade de organizar uma festa acabam por surgir. Quando se trata de uma família, o Natal deve ser planeado entre todos para que a decisão de fazer tudo como antes, não celebrar ou mudar a festa para outro local e hora (como um almoço em restaurante em vez de jantar em casa), não provoque tristeza. O apoio familiar é importante e por vezes também é positivo falar e lembrar a pessoa falecida, em vez de ignorar a memória. Por outro lado, a alegria ou divertimento durante a refeição ou depois não devem gerar sentimentos de culpa.

 

6. Cansaço e sobrecarga emocional

Muitas pessoas adoram organizar o Natal, preparar refeições, presentes e fazer compras. Mas isso não significa que não haja momentos de cansaço ou pressão, ou que de repente surja mudança de vontades. Delegar tarefas, pedir contributos para a refeição ou até pedir para que o jantar ou almoço seja feito noutra casa é natural. Por outro lado, quando há demasiadas solicitações ou convites, é importante saber dizer não e concentrar-se no que se consegue fazer ou participar.

 

7. Solidão ou tristeza

Pessoas que estão sozinhas também passam por períodos de ansiedade e sofrimento na época festiva quando a maior parte dos estímulos sociais, a começar pela televisão ou pela publicidade, remetem para a felicidade da quadra. Procurar distrações e atividades no exterior, ou participar em grupos de apoio social ou de voluntariado são formas de ocupar o tempo e sentir-se mais realizado. Caso haja família afastada ou amigos com quem já não se tem contacto, tentar recuperar essa proximidade, mas sem expectativas irrealistas, pode também trazer mais alegria ao Natal.

 

Dicas para a época festiva

De uma forma geral, há várias sugestões que podem ser aplicadas para evitar ou ultrapassar melhor os períodos das festas:

  • Ter expectativas realistas e definir objetivos concretos;
  • Abrandar, partilhar responsabilidades;
  • Planear, fazer listas e definir prioridades;
  • Não concentrar toda a energia num só dia;
  • Saborear os pequenos momentos, ser otimista;
  • Evitar pensar no que correu mal noutros anos;
  • Limitar o consumo de álcool, que exacerba pensamentos depressivos;
  • Ter cuidado com a alimentação;
  • Rodear-se da família e amigos;
  • Ter tempo para relaxar sozinho;
  • Manter controlo sobre os gastos.

 

A imagem do Natal veiculada pelos meios de comunicação ou nas redes sociais é frequentemente exagerada por motivos comerciais, com mesas fartas, decoração e presentes. É importante não se deixar influenciar por tudo isso, que pode provocar desânimo ou frustração pelo facto de não poder ter um Natal igual.

Quando os sentimentos de ansiedade ou tristeza são constantes e a pessoa se sente muito cansada e desmotivada, é importante pedir ajuda. Esse apoio pode vir da família e amigos e também do médico assistente ou psicólogo. Recorde que pode pedir ajuda e recorrer a linhas de apoio telefónicas ligadas à saúde mental.

Fontes:

Better Health, setembro de 2024

Cleveland Clinic, setembro de 2024

Harvard Medical School, setembro de 2024

Mayo Clinic, setembro de 2024

Ordem dos Psicólogos Portugueses, setembro de 2024

WebMD, setembro de 2024

Publicado a 10/12/2024