Anorexia nervosa
O que é?
A anorexia nervosa é um transtorno alimentar caracterizado por uma distorção da imagem corporal, com um medo extremo da obesidade e a incapacidade em manter um peso mínimo normal dentro dos 15% do peso corporal ideal.
Os pacientes com esta patologia têm a percepção de que estão gordos, quando na realidade se encontram extremamente magros.
Para ficarem magros recorrem a dietas restritivas que resultam em perdas de peso abaixo de 85% do que seria esperado, ou a valores de índice de massa corporal (IMC) abaixo de 17,5 kg/m2 com impacto a nível físico, podendo haver queixas de obstipação, dor abdominal, amenorreia, fraqueza e intolerância ao frio.
A nível psicológico é frequente a manifestação de sintomas como tristeza, baixa autoestima, autocrítica, isolamento social, irritabilidade, ansiedade e insónia. A nível comportamental é bastante comum que haja situações de ocultação de alimentos, simulação de refeições e uma recusa ou preocupação excessiva em alimentar-se em público. Normalmente, estes pacientes negam a sua condição, colocando em causa o acesso ao tratamento.
Em cerca de 95% dos casos a anorexia nervosa, atinge o género feminino. Geralmente, começa na adolescência, por vezes antes, e mais raramente na idade adulta. Afeta sobretudo pessoas de classe socioeconómica média e alta. Na sociedade ocidental o número de indivíduos com esta perturbação tem vindo a aumentar.
Em Portugal, estima-se uma prevalência de anorexia nervosa na ordem dos 0,3% a 0,4%, ocorrendo 90% no género feminino. Embora esta prevalência não seja muito elevada, ocorrem formas parciais da doença em cerca de 12,6% das adolescentes, cerca de 7% apresentam uma perturbação da imagem corporal e 38% com peso normal referem desejo de emagrecer. Estes números, todos referentes a Portugal, merecem uma atenção especial. A doença pode ser ligeira e transitória ou grave e duradoura, sendo fatal em 10% a 20% dos casos. A anorexia nervosa é a doença do comportamento alimentar com maior nível de mortalidade, sendo por esse motivo determinante o acesso precoce a um tratamento especializado.
Sintomas
Muitas das mulheres que mais tarde desenvolvem anorexia nervosa são meticulosas e compulsivas, ambicionando o sucesso e a realização profissional.
Preocupações com a imagem corporal
Os primeiros sinais são uma crescente preocupação com a dieta e o peso corporal, mesmo sendo já magras, como é o caso da maioria das pessoas com anorexia nervosa. A preocupação e a ansiedade intensificam-se à medida que emagrecem. Mesmo face a uma magreza extrema a pessoa insiste que está obesa, nega ter qualquer problema, não se queixa da falta de apetite ou da perda de peso e, em geral, resiste ao tratamento. Como tal, não recorre ao médico até que os familiares a obriguem.
Controlo alimentar obsessivo
Embora anorexia signifique ausência de apetite, as pessoas com anorexia nervosa estão esfomeadas e preocupadas com a alimentação, estudando regimes e calculando calorias.
Cerca de 50% dos indivíduos com anorexia nervosa ingerem uma quantidade excessiva de comida e a seguir desencadeiam o vómito ou ingerem laxantes ou diuréticos. A outra metade restringe simplesmente a quantidade de comida que ingere. A maioria pratica também um excesso de exercício para controlar o peso.
Alterações hormonais
As mulheres deixam de menstruar, por vezes antes de terem perdido muito peso. É comum uma perda de interesse sexual. Ocorre, ainda, frequência cardíaca lenta, pressão arterial baixa, baixa temperatura corporal, inchaço dos tecidos por acumulação de líquidos e cabelo fino e suave ou, pelo contrário, excessiva camada de pelos na face e corpo. A depressão é habitual na anorexia nervosa e ocorrem diversos tipos de alterações hormonais.
Outras consequências (em caso de desnutrição grave)
Quando a desnutrição se torna grave, todos os órgãos principais são afetados. Os problemas mais perigosos são os relacionados com o coração, com o sódio, potássio e cloro. O coração fica fraco e expulsa menos sangue. A pessoa pode desidratar-se e ter tendência para o desmaio. O sangue pode acidificar-se e os valores de potássio no sangue podem descer. Vomitar e tomar laxantes e diuréticos tendem a piorar a situação. Pode ocorrer uma morte súbita devido ao aparecimento de ritmos cardíacos anormais.
Causas
A sua causa é desconhecida, mas a pressão social parece ser um fator decisivo. Existem também indicadores genéticos envolvidos. O desejo de ser magro é muito frequente na sociedade ocidental e a obesidade é considerada pouco atraente. Mesmo as crianças estão a par destas atitudes e um grande número de adolescentes segue regimes para controlar o peso. De facto, a anorexia nervosa está relacionada com o processo de globalização e com a difusão de padrões de sociedades modernas no que se refere à beleza.
Doença
A lista de doenças que podem reduzir o apetite é vasta, destacando-se as seguintes: alcoolismo, hepatites, Doença de Addison e de Crohn, pneumonia, VIH/SIDA e outras doenças infeciosas, depressão, ansiedade, cancro, insuficiência renal ou cardíaca, tuberculose e colite ulcerosa.
Medicação
Diversos medicamentos podem causar anorexia, como os antidepressivos, os opiáceos, as anfetaminas, alguns antidiabéticos, a suspensão súbita de fármacos estimulantes do apetite e os corticosteroides.
Outros fatores
No que se refere à anorexia enquanto perda de apetite, a sua resolução e tratamento estão diretamente dependentes da causa e, como tal, será no diagnóstico e na correção do fator que a originou que estará a chave para o seu controlo.
Diagnóstico
Para a anorexia nervosa não existe um diagnóstico específico. É feito com base numa perda de peso acentuada e nos sintomas psicológicos característicos. O doente típico é uma adolescente que perdeu pelo menos 15% do seu peso corporal, receia a obesidade, deixou de menstruar, nega estar doente e parece saudável.
Tratamento
A anorexia nervosa requer acompanhamento psicológico e físico, este realizado por endocrinologistas e por nutricionistas. É essencial envolver no processo toda a família. É possível recuperar desta patologia. Estima-se que cerca de metade das pessoas o fazem, muitas outras apresentam períodos de recuperação e recaídas e uma minoria mantém uma forma crónica, mas é difícil prever a evolução de cada caso.
Geralmente, o tratamento faz-se em duas fases: a primeira é a restauração do peso corporal normal; a segunda é a psicoterapia, muitas vezes completada com fármacos.
Recuperação de peso
Quando a perda de peso foi rápida ou intensa (por exemplo, mais de 25% abaixo do peso ideal) a recuperação de peso é crucial e o tratamento inicial é geralmente realizado num hospital. Raramente a doente é alimentada por via endovenosa ou através de um tubo colocado no nariz e que chega até ao estômago.
Psicoterapia
Quando o estado nutricional é aceitável, começa-se o tratamento a longo prazo, que deve ser feito por especialistas nas alterações do apetite e que pode incluir psicoterapia individual, de grupo e familiar, assim como fármacos. De acordo com vários estudos, a intervenção psicológica demonstra eficácia na maioria dos pacientes que recuperam de uma forma total ou parcial os seus sintomas. Através de uma intervenção psicológica na anorexia nervosa procurar-se-á que o paciente retome um peso saudável, alcançando níveis motivacionais que o ajudem a cooperar na obtenção de padrões alimentares saudáveis e a aderir ao tratamento. Associado ao ganho do peso, pretende-se também a modificação de um conjunto de pensamentos, atitudes e emoções desadaptativas relacionadas com o comportamento alimentar, provocando uma melhoria da autoestima e da autoimagem e uma melhoria do seu funcionamento interpessoal. Após a melhoria do doente, a intervenção terá como objectivo central a prevenção de possíveis factores que poderão gerar uma recaída. O apoio familiar constitui-se como um factor primordial na eficácia da intervenção.
Prevenção
A melhor prevenção da anorexia nervosa passa pela identificação precoce dos primeiros sinais deste distúrbio e a sua pronta correção. Uma perda de autoestima, insatisfação com a aparência, alteração nos hábitos alimentares são motivos para abordar este tema. O suporte, a atenção e o diálogo são, neste caso, boas ferramentas que devem ser exploradas.
Manual Merck online, 2013
Mayo Foundation for Medical Education and Research, Março 2013
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Anorexia em Portugal, Vânia Fachada, Licenciatura de Sociologia, Univ. Coimbra, 2004
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